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sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Educar para a vida: o que o Brasil pode aprender em Educação com a Finlândia?



As crianças finlandesas são “preparadas para a vida”: cena de uma escola num subúrbio de Helsinque

Esta é a primeira parte do Projeto Escandinávia, bancado por nossos leitores. O foco não poderia ser mais oportuno: Educação num país que se tornou uma referência mundial no assunto, a Finlândia.

O texto é de Claudia Wallin, que se deslocou para Helsinque para investigar o caso de sucesso finlandês na Educação. Claudia é uma especialista em Escandinávia. Moradora de Estocolmo e casada com um sueco, é autora de um livro fundamental para quem deseja conhecer o espírito escandinavo: Um País sem Excelências e Mordomias.

Nos próximos dias, publicaremos as demais partes do Projeto — e um vídeo feito por Claudia em Helsinque.

Soltaram as bestas do Apocalipse, dirão os arautos do fim do mundo: nas escolas finlandesas, o filho do empresário e o filho do lixeiro estudam lado a lado, em um eficiente e igualitário sistema educacional que tornou-se um dos mais celebrados modelos de excelência em educação pública do mundo atual.

É o chamado milagre finlandês, iniciado na década de 70 e produzido em sua maior exuberância a partir dos anos 90. Em um espaço de 30 anos, a Finlândia transformou um sistema educacional medíocre, elitista e ineficaz, que amargava resultados escolares comparáveis a países como o Peru e a Malásia, em uma incubadora de talentos que alçou o país para o topo dos rankings mundiais de desempenho estudantil, e alavancou o nascimento de uma economia sofisticada e altamente industrializada onde antes jazia uma sociedade substancialmente agrária.

Trata-se, à primeira vista, de um enigma digno da Esfinge de Tebas: os finlandeses estão fazendo exatamente o contrário do que o resto do mundo faz na eterna busca por melhores resultados escolares – e está dando certo. O aparentemente ensandecido receituário finlandês inclui reduzir o número de horas de aula, e limitar testes e provas escolares a um mínimo tolerável.    

Atônitas delegações de educadores internacionais vasculham o paradoxal modelo finlandês em busca da fórmula do milagre insondável. E ouvem, dos finlandeses, uma constatação capaz de produzir mais batimentos cardíacos do que o medonho encontro com um tubarão no mar: a Educação de alta qualidade na Finlândia não é resultado apenas de políticas educacionais, eles dizem, mas também sociais.

 “O Estado de Bem-Estar social finlandês desempenha um papel crucial para o sucesso do modelo, ao garantir a todas as crianças oportunidades e condições iguais para um bom aprendizado”, diz o educador Pasi Sahlberg, um dos idealizadores da reforma das políticas educativas da Finlândia nos anos 90.

Sahlberg fala do que vejo nas instalações da Escola Viikki, um dos centros educacionais de ensino médio e fundamental da capital finlandesa. No amplo refeitório, refeições fartas e saudáveis são servidas diariamente aos estudantes. Serviços de atendimento médico e odontológico cuidam, gratuitamente, da saúde dos 940 estudantes. Todo o material escolar é também gratuito. Equipes de pedagogos e psicólogos acompanham cuidadosamente o desenvolvimento de cada criança, identificando na primeira hora problemas como a dislexia de um aluno e fornecendo apoio imediato. Saudáveis e bem alimentadas, as crianças estão mais preparadas para aprender neste país singular, onde mensalidades escolares não existem.

Pasi Sahlberg fala ainda do impacto fundamental do modelo de igualdade e justiça social criado gradualmente pelos finlandeses a partir do pós-guerra, a exemplo dos vizinhos escandinavos: saúde, Educação e moradia para todos, e uma vasta e solidária rede de proteção aos cidadãos.

“A desigualdade social, a pobreza infantil e ausência de serviços básicos têm um forte impacto negativo no desempenho do sistema educacional de um país”, pontua Sahlberg no livro “Finnish Lessons” (“Lições Finlandesas”), publicado pelo Teachers College da Columbia University.

 
Pasi Sahlberg, um dos renovadores da educação finlandesa: “O Estado de Bem-Estar social finlandês desempenha um papel crucial para o sucesso do modelo, ao garantir a todas as crianças oportunidades e condições iguais para um bom aprendizado”

O princípio da igualdade e da inclusão social marcou o desenvolvimento nos anos 70 da nova peruskoulu, a Educação obrigatória finlandesa que abrange o ensino fundamental e médio. Em uma decisão histórica do Parlamento finlandês, todas as crianças, independentemente de background sócio-econômico ou região de domicílio, passaram a ter acesso igualitário e gratuito a escolas de qualidade para cumprir os nove anos da Educação básica.

Nem todos, porém, concordavam com a ideia na época. Seguiu-se então um acalorado debate, neste país que acomoda 5,4 milhões de habitantes e mais de dois milhões de saunas.

Como que tomados pelo espírito dos mais destemperados analistas econômicos do Brasil, os críticos do novo sistema previram o caos: disseram que não seria possível ter as mesmas expectativas em relação a crianças de diferentes circunstâncias sociais. Argumentaram que o futuro da Finlândia como nação industrial estaria sob risco, uma vez que o nível educacional teria que ser ajustado para baixo a fim de acomodar os alunos menos favorecidos. Erraram, evidentemente.

O vital passo seguinte foi uma valorização sem precedentes do professor. A Finlândia lançou programas de formação de excelência para o magistério nas universidades do país, criou notáveis condições de trabalho e ampla autonomia decisória nas escolas, e paga bem seus professores. Mas o mais fundamental, diz Pasi Sahlberg, foi a criação de uma nova noção de dignidade profissional:

“Os professores adquiriram um alto grau de respeito e confiança em nossa sociedade. E os finlandeses continuam a considerar o magistério como uma carreira nobre, orientada principalmente por propósitos morais”, destaca Pasi Sahlberg, ex-diretor-geral no ministério finlandês de Educação e Cultura e atual professor visitante de Práticas Educacionais na Universidade de Harvard.

O terceiro ingrediente da fórmula finlandesa foi a elaboração de uma tresloucada teoria dos paradoxos. Talvez formulada em um estado coletivo de delirium tremens, a ideia provaria ser visionária.

Paradoxo 1:  Os alunos aprendem mais quando os professores ensinam menos

A experiência finlandesa desafia a lógica convencional, que prescreve mais horas de aula e maior quantidade de lições de casa como fórmula para turbinar o desempenho estudantil. Os dias são mais curtos nas escolas da Finlândia: são menos horas de aula do que em todas as demais nações industrializadas, segundo estatísticas da OECD.

“É importante que crianças tenham tempo de ser crianças”, diz a professora Erja Schunk na Escola Viikki, que também funciona como um centro de treinamento de professores da Universidade de Helsinque. “O mais importante é a qualidade do tempo em sala de aula, e não a quantidade”.

Nos Estados Unidos, um professor gasta aproximadamente o dobro do tempo ensinando na sala de aula por semana, em comparação com um professor finlandês.

“Dar seis horas de aula por dia é uma tarefa árdua, que deixa os professores cansados demais para se dedicar a outras tarefas importantes no trabalho de um educador, como planejar, reciclar-se e dar assistência cuidadosa ao aluno”, diz Pasi Sahlberg. Em uma típica escola finlandesa, os professores dão cerca de quatro aulas por dia.

Na lógica do modelo finlandês, o papel central da Educação pública não é criar indivíduos robotizados, e sim educar cidadãos dotados de espírito crítico e capazes de pensar de forma independente.

“Procuramos não dar respostas prontas aos alunos, na medida do possível, e sim orientá-los a pensar e refletir”, observa a diretora da Escola Viikki, Marja Martikainen. 

“A preocupação central da escola finlandesa não é atingir recordes de desempenho escolar, e sim ajudar a desenvolver as aptidões de uma criança a fim de formar indivíduos capazes de viver vidas felizes, dentro e fora do trabalho”.

Professores finlandeses também não acreditam que aumentar a carga de trabalho de casa dos estudantes leva necessariamente a um melhor aprendizado – especialmente se as lições forem entediantes exercícios que não desafiam a capacidade criativa do aluno. Pelas estatísticas da OECD, os estudantes finlandeses gastam menos tempo fazendo trabalho de casa do que os colegas de todos os outros países: cerca de meia hora por dia.

“Os alunos aprendem o que necessitam saber na sala de aula, e muitos fazem o dever de casa aqui mesmo, na própria escola. Assim, eles têm tempo para conviver com os amigos e se dedicar às coisas que gostam de fazer fora da escola, o que também é importante”, diz o professor Martti Mery na Escola Viikki, que está situada em um campus da Universidade de Helsinque. 

Diretor e aluno numa escola: diversão também é fundamental

Como no centro escolar de Viikki, as escolas finlandesas são tipicamente pequenas, e o tamanho das classes é em média de 20 alunos.

Na fase pré-escolar, a prioridade é desenvolver a auto-confiança das crianças: os dias na escola são preenchidos com tarefas como aprender a se orientar desacompanhadas em uma floresta, ou amarrar sozinhas seus patins de gelo.

Paradoxo 2: Os alunos aprendem mais quando têm menos provas e testes

Estudantes finlandeses só suam demais nas infernais saunas do país: seu sistema educacional não acredita na eficácia de uma alta frequência de provas e testes, que por isso são aplicados com pouca regularidade. Apesar disso, a Finlândia brilha nos rankings globais de Educação, ao lado dos países com melhor desempenho escolar do mundo.

Milagre? A filosofia finlandesa é de que o foco principal dos professores deve ser ajudar os alunos a aprender sem ansiedade, a criar e a desenvolver a curiosidade natural, e não simplesmente a passar em provas.

“A pressão do modelo tradicional de ensino traz consequências dramáticas para os alunos, como o medo, o tédio e o receio de assumir riscos”, ensina o educador Pasi Sahlberg.

Relatórios do PISA indicam que apenas 7% dos alunos finlandeses sentem-se ansiosos ao estudar matemática. Já no rígido sistema de ensino do Japão, que ostenta altos níveis de desempenho escolar enquanto registra recordes de suicídio entre estudantes, esse índice chega a 52%.

À minha volta, nas salas de aula da escola Viikki, o ambiente é tranquilo e descontraído. Não há uniformes escolares, e muitos estudam descalços – refletindo o clima doméstico das casas escandinavas, onde ninguém usa sapatos.

As crianças finlandesas iniciam sua educação formal aos sete anos de idade, e a escola primária é praticamente uma zona livre de testes. A fim de evitar que as crianças sejam categorizadas de acordo com sua performance, o sistema finlandês virtualmente aboliu a avaliação por notas escolares nos cinco primeiros anos da peruskoulu.

Nos anos seguintes, a avaliação é feita com base em testes elaborados pelo professor e no desempenho do aluno em sala de aula, além de uma ampla avaliação de cada estudante realizada coletivamente pelos professores ao fim de cada semestre. Os que precisam de maior assistência no ensino, recebem atenção particular: a filosofia finlandesa preza a crença de que todas as crianças têm o potencial de aprender, se tiverem apoio e oportunidades adequadas.

O único exame padronizado de avaliação escolar na Finlândia é o concurso nacional prestado pelos estudantes ao final dos nove anos do ensino obrigatório, em que o conhecimento é testado através de dissertações desenvolvidas pelo aluno nas diferentes disciplinas como exigência para o acesso à educação superior.

E repetir de ano, na forma convencional, é algo que também não existe na Finlândia. Em vez de uma avaliação geral dos alunos ao fim de cada ano, as escolas finlandesas utilizam módulos curriculares em diferentes áreas do conhecimento. Assim, um aluno repete apenas os cursos nos quais seu desempenho não foi satisfatório.

Todos os aspectos por trás do sucesso finlandês parecem ser, assim, o oposto do que se faz na maior parte do mundo, onde a competição, a carga de provas e aulas, a uniformização do ensino e a privatização são via de regra os princípios dominantes.

“Exercer controles rígidos sobre as escolas e os alunos, pagar os professores com base no desempenho dos estudantes, entregar a liderança das escolas a especialistas em gerenciamento ou converter escolas públicas em privadas, são ideias que não têm lugar no repertório finlandês de desenvolvimento da educação em um país”, diz o educador Pasi Sahlberg.

Dizem ainda os finlandeses que o dinheiro não é “a” única solução para melhorar o desempenho de um sistema educacional.

“Os gastos da Finlândia com educação, da ordem de 6,3% do PIB, são na verdade bastante próximos à média registrada nos países da OECD em todos os níveis - com exceção da Educação superior, em que estamos em oitavo lugar na lista dos que mais investem”, diz Niklas Nikanorov, do Ministério da Educação e Cultura finlandês.

“A eficiência do sistema é portanto mais importante para uma boa performance educacional do que o nível de gastos”, deduz o educador Pasi Sahlberg.

A História

Até o fim dos anos 60, a Finlândia parecia acreditar mais no Papai Noel da sua Lapônia do que no poder transformador da Educação. Apenas 10 por cento dos adultos completavam o ensino secundário. A maior parte dos jovens abandonava os estudos após completar seis ou sete anos do ensino fundamental e médio.

As oportunidades eram limitadas, e o acesso desigual: apenas as crianças que viviam nas maiores cidades e municípios tinham acesso a escolas públicas, ou a instituições privadas que muitas famílias não tinham condições de pagar.

Um diploma universitário era considerado, na época, um troféu excepcional – apenas 7% da população tinham Educação superior. Em todas as faixas de aprendizado, a Finlândia era um símbolo de atraso em relação aos vizinhos escandinavos.

Mas a história da Finlândia sempre foi marcada pela resiliência do seu povo, que só conquistou a independência em 1917 – depois de seis séculos sob o domínio do Reino da Suécia, e mais de cem anos como Grão-Ducado do Império Russo e seus cinco czares.

Na década de 70, a nação foi convocada a mudar. Uma Educação pública estelar passou a ser percebida como a base fundamental para a criação de um futuro menos medíocre: desenvolver o capital humano do país tornou-se a missão primordial do Estado finlandês. A reforma levou o país, enfim, aos patamares do mundo desenvolvido.

Nos anos 90, o país anunciou uma revolução ainda mais radical:

“Estamos criando uma nova cultura de Educação, e este é um caminho sem volta”, declarou o então diretor-geral do Conselho Nacional de Educação finlandês, Vilho Hirvi, chamando a sociedade a participar da discussão sobre os rumos da reforma:

“Não se pode educar uma nação à força”, completou o sábio Hirvi.

Associações de professores, políticos, pais, membros da academia e diferentes setores da sociedade contribuíram para a criação dos novos e revolucionários paradigmas da Educação no país, que rejeitavam a fórmula convencional aplicada na maior parte do mundo como receita para melhorar o desempenho escolar.

“Particularmente significativo foi o papel desempenhado por variadas organizações da sociedade civil”, destaca Pasi Sahlberg, que foi um dos conselheiros do Ministério da Educação finlandês nos anos 90.

A transformação do sistema foi profunda, e rápida. Como resultado da nova política de Educação, já no fim dos anos 90 a peruskoulu finlandesa tornou-se líder mundial em matemática, ciências e interpretação.

Os primeiros resultados do PISA publicados em 2001 surpreenderam os próprios finlandeses: em todos os domínios acadêmicos, a Finlândia despontou no topo do ranking mundial. E permanece, até hoje, entre os mais destacados membros do clube.

“Atualmente, 99,4% dos alunos completam com êxito o peruskoulu compulsório”, diz Niklas Nikanorov, do Ministério da Educação e Cultura finlandês.

Com o acesso gratuito às universidades e instituições de ensino técnico e profissionalizante, a Educação de nível superior também passou a ser uma oportunidade igual para todos: a Educação na Finlândia é livre de mensalidades para todos, do pré-escolar ao PhD.

Mais: a partir dos 17 anos de idade, todos os estudantes finlandeses contam com generosos benefícios do governo, que chegam a 337 euros mensais (cerca de 1,230 reais). Além disso, têm acesso a benefícios extras como ajuda de custo de até 200 euros por mês para pagar o aluguel de moradia, e recursos para complementar as despesas com transporte. Além disso, todos têm direito a um empréstimo especial para se manter durante o período de estudos, que chega a 400 euros mensais e só precisa ser quitado em sua totalidade quando o estudante completa 60 anos de idade.

A Lição da Finlândia

 A Finlândia diz ter aprendido uma lição: políticas de Educação efetivas devem estar necessariamente interligadas às demais políticas sociais, afirma o educador Pasi Sahlberg:

“As pessoas na Finlândia têm um profundo senso de responsabilidade compartilhada, e importam-se não apenas com as próprias vidas, mas também com o bem-estar dos outros”, ele observa.

“Os cuidados com o bem-estar da criança começam antes mesmo de ela nascer, e se estendem até a idade adulta. As creches públicas são um direito garantido para todas as crianças, que também têm acesso igualitário a todo tipo de serviço básico. A Educação em nosso país é considerada um bem público. É portanto protegida, na Constituição do país, como um direito humano básico.”

As estatísticas apontam o caminho, ele diz:

“As sociedades igualitárias têm cidadãos com grau de instrução mais elevado, raros casos de evasão escolar, menores taxas de obesidade, melhores indicadores de saúde mental e índices mais reduzidos de ocorrência de gravidez entre adolescentes, em relação aos países nos quais que a distância entre ricos e pobres é maior”, enfatiza Sahlberg.

Filhos de imigrantes se beneficiam também da Educação finlandesa

Diz-se que o modelo nórdico do Estado de Bem-Estar Social teve como base três ideias políticas centrais: o legado dos camponeses livres, o espírito do capitalismo e a utopia do socialismo.

“Igualdade, eficiência e solidariedade, os princípios essenciais destas três ideias políticas, formam a raiz do terreno sólido no qual a política de Educação finlandesa foi criada”, resume Erkki Aho, diretor-geral do Conselho Nacional de Educação da Finlândia entre 1973 e 1991.

Os gastos realizados para concretizar o ideal de um Estado de Bem-Estar social foram considerados não como um custo necessário – e sim como um investimento lúcido para alavancar a produtividade do país.

“É interessante ainda notar que a expansão do setor educacional na Finlândia coincidiu com uma impressionante transformação do país, que em um período relativamente curto deixou de ser uma sociedade agrária e atrasada para se tornar uma economia altamente industrializada, baseada no conhecimento”, diz Pasi Sahlberg.

Sahlberg resume assim o pensamento finlandês sobre a educação pública de qualidade:

“É uma obrigação moral, pois o bem-estar e em última análise a felicidade de um indivíduo depende do conhecimento, das aptidões e das visões de mundo que são proporcionadas por uma Educação de qualidade.”


É também um imperativo econômico, uma vez que a riqueza das nações depende cada vez mais de know-how e conhecimento”.


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Saúde e cidadania: Eles colocaram a creche dentro do asilo e isso mudou a vida de todos

"Idosos são crianças grandes que não perdem a inocência e ainda ganham com a experiência".



O que crianças podem oferecer aos idosos? Uma casa de repouso em Seattle, nos Estados Unidos, a Providence Mount St. Vincent, quis saber como seria a integração dos dois extremos da vida. E parece que o programa "The Intergenerational Learning Center" (ILC), Centro de Aprendizagem Intergeracional, em tradução livre, está dando muito certo.

A creche, que recebe crianças com idade entre seis semanas até a pré-escola com cinco anos, fica no mesmo prédio da casa de repouso que conta com 400 idosos. O convívio entre eles é de emocionar-se. As atividades dos pequenos são feitas em conjunto com os idosos supervisionados pelos professores.

O programa, além de ensinar as crianças sobre o envelhecimento, quer criar uma sensibiidade em como conviver com pessoas com deficiências ou movimentos limitados.

No outro lado da história estão os idosos que também saem ganhando com o convívio diário. De acordo com estudos realizados pelo ILC, 43% dos idosos têm uma experiência social de isolamento que pode levar a solidão, depressão, declínio mental e físico. E o que as crianças têm levado a eles é o oposto: diversão, alegria e um sentimento de que não foram esquecidos e que ainda têm muito para ensinar.

Fonte http://www.familia.com.br/


quarta-feira, 3 de junho de 2015

Claudio Naranjo: “A Educação atual só produz zumbis”

O psiquiatra chileno diz que investir numa didática afetiva é a saída para estimular o autoconhecimento dos alunos e formar seres autônomos e saudáveis

A DIDÁTICA DO AFETO
O psiquiatra Claudio Naranjo.
A Educação é a única forma de
mudar o mundo (Foto Divulgação)
Por Flavia Yuri Oshima/Revista Época

O psiquiatra chileno Claudio Naranjo tem um currículo invejável. Formou-se em medicina na Universidade do Chile, especializou-se em psiquiatria em Harvard e virou pesquisador e professor da Universidade de Berkeley, ambas nos EUA. Desenvolveu teorias importantes sobre tipos de personalidade e comportamentos sociais. 

Trabalhou ao lado de renomados pesquisadores, como os americanos David McClelland e Frank Barron. Publicou 19 títulos. Sua trajetória pode ser classificada como irrepreensível pelo mais ortodoxo dos avaliadores. Ele é, inclusive, um dos indicados ao Nobel da Paz deste ano. É comum, no entanto, que Naranjo seja chamado, em tom pejorativo, de esotérico e bicho grilo. Há mais de três décadas, ele e a fundação que leva seu nome pregam que os educadores devem ser mais amorosos, afetivos e acolhedores. Ele defende que essa é a forma mais eficaz de ajudar todos os alunos – não só os melhores – a efetivamente aprender “e assim mudar o mundo”, como ele diz. Claudio Naranjo esteve no Brasil para participar do evento sobre educação básica Encontro de Educadores.

ÉPOCA – O senhor é psiquiatra e desenvolveu teorias importantes em estudos de personalidade. Hoje trabalha exclusivamente com Educação. Por que resolveu se dedicar a esse tema?
Claudio Naranjo – Meu interesse se voltou para a Educação porque me interesso pelo estado do mundo. Se queremos mudar o mundo, temos de investir em Educação. Não mudaremos a economia, porque ela representa o poder que quer manter tudo como está. Não mudaremos o mundo militar. Também não mudaremos o mundo por meio da diplomacia, como querem as Nações Unidas – sem êxito. Para ter um mundo melhor, temos de mudar a consciência humana. Por isso me interesso pela Educação. É mais fácil mudar a consciência dos mais jovens.

ÉPOCA – Quais os problemas do modelo educacional atual na opinião do senhor?
Naranjo – Temos um sistema que instrui e usa de forma fraudulenta a palavra Educação para designar o que é apenas a transmissão de informações. É um programa que rouba a infância e a juventude das pessoas, ocupando-as com um conteúdo pesado, transmitido de maneira catedrática e inadequada. O aluno passa horas ouvindo, inerte, como funciona o intestino de um animal, como é a flora num local distante e os nomes dos afluentes de um grande rio. É uma aberração ocupar todo o tempo da criança com informações tão distantes dela, enquanto há tanto conteúdo dentro dela que pode ser usado para que ela se desenvolva. Como esse monte de informações pode ser mais importante que o autoconhecimento de cada um? O nome Educação é usado para designar algo que se aproxima de uma lavagem cerebral. É um sistema que quer um rebanho para robotizar. A criança é preparada, por anos, para funcionar num sistema alienante, e não para desenvolver suas potencialidades intelectuais, amorosas, naturais e espontâneas.

ÉPOCA – Como é possível mudar esse modelo?
Naranjo – Podemos conceber uma Educação para a consciência, para o desenvolvimento da mente. Na fundação, criamos um método para a formação de educadores baseado em mais de 40 anos de pesquisas. O objetivo é preparar os professores para que eles se aproximem dos alunos de forma mais afetiva e amorosa, para que sejam capazes de conduzir as crianças ao desenvolvimento do autoconhecimento, respeitando suas características pessoais. Comprovamos por meio de pesquisas que esse é o caminho para formar pessoas mais benévolas, solidárias e compassivas. Hoje a Educação é despótica e repressiva. É como se Educar fosse dizer faça isso e faça aquilo. O treinamento que criamos está entre os programas reconhecidos pelo Fórum Mundial da Educação, do qual faço parte. Já estive com ministros da Educação de dezenas de países para divulgar a importância dessa abordagem.

ÉPOCA – E qual foi a recepção?
Naranjo – A palavra amor não tem muita aceitação no mundo da Educação. Na poesia, talvez. Na religião, talvez. Mas não na Educação. O tema inteligência emocional é um pouco mais disseminado. É usado para que os jovens tomem consciência de suas emoções. É bom que exista para começar, mas não tem um impacto transformador. A inteligência emocional é aceita porque tem o nome inteligência no meio. Tudo o que é intelectual interessa. Não se dá importância ao emocional. Esse aspecto é tratado com preconceito. É um absurdo, porque, quando implementamos  uma didática afetuosa, o aluno aprende mais facilmente qualquer conteúdo. Os ministros da Educação me recebem muito bem. Eles concordam com meu ponto de vista, mas na prática não fazem nada. Pode ser que isso ocorra por causa da própria inércia do sistema. O ministro é como um visitante que passa pelos ministérios e consegue apenas resolver o que é urgente. Ele mesmo não estabelece prioridades. Estou mais esperançoso com o novo ministro da Educação de vocês (Renato Janine Ribeiro). Ele me convidou para jantar, para falarmos sobre minhas ideias. É a primeira vez que a iniciativa parte do lado do governo. Ele é um filósofo, pode fazer alguma diferença.

>> "Quando há amor na forma de ensinar, o aluno aprende mais facilmente qualquer conteúdo"

ÉPOCA – Para quem decidiu ser professor, não seria natural sentir amor, compaixão e vontade de cuidar do aluno?
Naranjo – Uma vez dei uma aula a um grupo de estudantes de pedagogia na Universidade de Brasília. Fiquei muito decepcionado com a falta de interesse. Vendo minha expressão, o coordenador me disse: “Compreenda que eles não escolheram ser Educadores. Alguns prefeririam ser motorista de táxi, mas decidiram educar porque ganham um pouco mais e têm um pouco mais de segurança. Estão aqui porque não tiveram condições de se preparar para ser advogados ou engenheiros ou outra profissão que almejassem”. Isso acontece muito em locais em que a Educação não é realmente valorizada. Quem chega à escola de Educação são os que têm menos talento e menos competência. Não se pode esperar que tenham a vocação pedagógica, de transmitir valores, cuidar e acolher.

ÉPOCA – O senhor diz que o sistema de Educação atual desperdiça talentos, rotulando-os com transtornos e distúrbios. Pode explicar melhor esse ponto?
Naranjo – Humberto Maturana, cientista chileno, me contou que a membrana celular não deixa entrar aquilo que ela não precisa. A célula tem um modelo em seus genes e sabe o que necessita para construir-se. Um eletrólito que não lhe servirá não será absorvido. Podemos usar essa metáfora para a Educação. As perturbações da Educação são uma resposta sã a uma Educação insana. As crianças são tachadas como doentes com distúrbios de atenção e de aprendizado, mas em muitos casos trata-se de uma negação sã da mente da criança de não querer aprender o irrelevante. Nossos estudantes não querem que lhe metam coisas na cabeça. O papel do educador é levá-lo a descobrir, refletir, debater e constatar. Para isso, é essencial estimular o autoconhecimento, respeitando as características de cada um. Tudo é mais efetivo quando a criança entende o que faz mais sentido para ela.

ÉPOCA – Por que a Educação caminhou para esse modelo?
Naranjo – Isso surgiu no começo da era industrial, como parte da necessidade de formar uma força de trabalho obediente. Foi uma traição ao ideal do pai do capitalismo, Adam Smith, que escreveu A riqueza das nações. Ele era professor de filosofia moral e se interessava muito pelo ser humano. Previu que o sistema criaria uma classe de pessoas dedicadas todos os dias a fazer só um movimento de trabalho, a classe de trabalhadores. Previu que essa repetição produziria a deterioração de suas mentes e advertiu que seria vital dar a eles uma Educação que lhes permitisse se desenvolver, como uma forma de evitar a maquinização completa dessas pessoas. Sua mensagem foi ignorada. Desde então, a Educação funciona como um grande sistema de seleção empresarial. É usada para que o estudante passe em exames, consiga boas notas, títulos e bons empregos. É uma distorção do papel essencial que a Educação deveria ter.

>> O professor é o fator que mais influencia na Educação das crianças

ÉPOCA – Há algo que os pais possam fazer?
Naranjo – Muitos pais só querem que seus filhos sigam bem na escola e ganhem dinheiro. Acho que os pais podem começar a refletir sobre o fato de que a Educação não pode se ocupar só do intelecto, mas deve formar pessoas mais solidárias, sensíveis ao outro, com o lado materno da natureza menos eclipsado pelo aspecto paterno violento e exigente. A Unesco define Educar como ensinar a criança a ser. As Constituições dos países, em geral, asseguram a liberdade de expressão aos adultos, mas não falam das crianças. São elas que mais necessitam dessa liberdade para se desenvolver como pessoas sãs, capazes de saber o que sentem e de se expressar. Se os pais se derem conta disso, teremos uma grande ajuda. Eles têm muito poder de mudança.


sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Capes: 12% dos programas de pós-graduação brasileiros têm padrão internacional

Dos 3.337 programas de pós-graduação existentes no país, 406 (12%) têm padrão de qualidade internacional, conforme dados divulgados nesta terça (10/12/2013) pelo Ministério da Educação a partir de avaliações feitas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), entre 2010 e 2012. A avaliação usa escala de 1 (pior nota) a 7 (melhor nota). Os programas com nível internacional obtiveram pontuações 6 e 7.

Os 3.337 programas de pós-graduação somam 5.082 cursos, sendo 2.903 de mestrado, 1.792 de doutorado e 397 de mestrado profissional.

As notas dos programas podem ser consultadas no site da Capes

Do total, 1,8% dos programas (equivalente a 60) tiveram as notas mais baixas, 1 e 2, e poderão ser descredenciados. "É só 1,8% dos cursos, são poucos cursos. Mas de qualquer forma nós não negociamos o que é o padrão mínimo de qualidade", disse o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Na avaliação de 2010, 2,2% dos programas foram descredenciados, na ocasião, pouco mais de 4 mil foram avaliados.

Conforme os dados divulgados hoje, quase 70% dos programas mantiveram a mesma nota da última avaliação, em 2010, enquanto 23% conseguiram melhorar a pontuação. Os resultados apontam que 4,2% tiveram nota máxima (7); 8% tiveram nota 6; 17,9% conseguiram nota 5; 36,5% obtiveram pontuação 4; e 31,6% tiveram nota 3.

Formação do professores, produção intelectual e infraestrutura estão entre os quesitos avaliados. A maioria dos programas concentra-se nas áreas de ciências da saúde e humanas.

De acordo com a Capes, o número de mestres e doutores cresceu no período analisado. Em 2012, 42.780 mestres se formaram no país, ante 35.965, em 2010. Os doutores titulados passaram de 11.210 para 13.879 no mesmo período, e os mestres profissionais, voltados para o mercado de trabalho, aumentaram de 3.236 para 4.251.

Os cursos de pós-graduação têm, atualmente, 56.890 professores permanentes e uma produção de quase 1,5 milhão de artigos, livros e produções técnicas.

Entre 2010 e 2013, o Brasil teve 23% de crescimento na quantidade de programas de pós-graduação. Segundo a avaliação, nesse período, a alta chegou a 40% na Região Norte, passando de 121 para 170. No Nordeste, com 655 programas, houve um crescimento de 33%; no Sudeste, são 1.560 programas, o aumento registrado é 14%; no Sul, são 648, alta de 25%; e no Centro-Oeste, o aumento chegou a 37% (268 programas).


Fonte Agência Brasil


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