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domingo, 28 de dezembro de 2014

Dica de livro: o céu e o inferno da educação

Crítico dos testes, o chinês Yong Zhao explica por que o gigante asiático tem o melhor e o pior sistema do mundo

Por Tory Oliveira, para a Carta na Escola

Chineses se debruçam para serem aprovados no Ensino Superior
(foto Ma Jian/Chinafotopress/Getty Images)
Inédito no Brasil, o livro Who’s Afraid of the Big Bad Dragon (Quem Tem Medo do Grande e Malvado Dragão) tem um subtítulo intrigante: “Por que a China tem o melhor e o pior sistema educacional do mundo”. Ao longo de 272 páginas, o autor Yong Zhao dedica-se a explicar esse paradoxo e a desconstruir a ideia de que o modelo chinês de Educação – centralizador, baseado na ênfase em testes padronizados, altamente competitivo e sempre no topo do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) – é um exemplo a ser seguido pelos demais países. 

“Os piores aspectos (do modelo chinês) estão na ênfase exagerada em avaliação, que torna todas as demais atividades de estudantes, professores, pais e escolas em uma preparação para os testes. Consequentemente, a experiência educacional dos alunos, dentro e fora da escola, está focada em poucos assuntos. O bem-estar social, emocional e físico fica em segundo plano”, critica Zhao, que conheceu o sistema educacional chinês como aluno e professor.

Nascido na província de Sichuan, Yong Zhao estudou em uma pequena escola rural durante a Revolução Cultural (1966-1976), quando o exame de admissão do Ensino Superior (Gaokao) foi abolido. O mesmo não aconteceu no curso equivalente ao nosso Ensino Médio, período em que sentiu na pele a enorme pressão para atingir uma boa nota e passar no exame, restaurado em 1977.

Após se formar em Língua Inglesa e lecionar por seis anos na China, Zhao aceitou uma oferta para trabalhar como professor-visitante no Linfield College e se mudou para os Estados Unidos, em 1992. Atualmente, o autor ocupa o cargo de professor na Universidade do Oregon e é presidente do Institute for Global and Online Education, na mesma instituição.

Por e-mail, Zhao conversou com Carta na Escola sobre o sistema educacional chinês, os perigos de uma Educação baseada em testes e a admiração nutrida por muitos países ocidentais pela educação tradicional chinesa.

Carta na Escola: Por que a China tem, ao mesmo tempo, o melhor e o pior sistema educacional do mundo? Como isso é possível?
Yong Zhao: Porque existem diferentes definições e objetivos na Educação. Se você acredita que Educação significa ter todos os seus estudantes dominando o mesmo conteúdo prescrito e demonstrando esse domínio por meio de testes focalizados, a China já demonstrou ser a melhor, ao menos de acordo com o Pisa. Mas, se você pensa que Educação significa ajudar a melhorar e desenvolver habilidades individuais, produzir a diversidade, cultivar a criatividade e prover uma experiência balanceada para o desenvolvimento da criança como um todo, talvez a China seja a pior. Aliás, não se trata do único país a ter um sistema educacional com essas características. Na verdade, todo sistema educacional que coloca muita ênfase em testes e que impõe aos seus estudantes um conjunto limitado de habilidades e conhecimentos pode ter essas consequências.

CE: Quais são os piores aspectos da educação chinesa, em sua opinião?
YZ: Na prática, os piores aspectos estão na ênfase exagerada nos testes, que torna todas as demais atividades de estudantes, professores, pais e escolas em uma preparação para os testes. Consequentemente, a experiência educacional dos alunos, dentro e fora da escola, está focada em poucos assuntos. O bem-estar social, emocional e físico ficam em segundo plano. Mas a ênfase exagerada nos testes é resultado das chamadas high-stake tests, nas quais o sucesso na vida de uma pessoa (e tem sido assim há muito tempo) é definido pela sua capacidade de chegar ao Ensino Superior, única forma de conseguir os melhores empregos. 

CE: No último Pisa, Xangai (e a China) ocupou o primeiro lugar do ranking. No entanto, o senhor aponta o fato de que, desde 1949, o país não ganhou nenhum Prêmio Nobel. Esse modelo de Educação está prejudicando a criatividade e outras capacidades dos estudantes?
YZ: Ao menos em parte, sim. Há muitos fatores envolvidos, é claro, mas um sistema educacional que premia os estudantes pelo bom desempenho em testes padronizados certamente prejudica aspectos presentes em indivíduos mais criativos.

CE: Um dos aspectos mais conhecidos da população chinesa no Ocidente é a valorização da Educação como chave para o sucesso. O senhor afirma, porém, que essa valorização é uma “estratégia de sobrevivência”. Poderia explicar melhor?
YZ: A Educação, ou melhor, passar em testes, tem sido o único caminho para a mobilidade social na China – e os testes são controlados pelas autoridades. As pessoas precisam valorizar essa “Educação”. Como eu explico no livro, as pessoas não valorizam necessariamente a Educação, mas sim a preparação necessária para passar nos exames. Assim, o que observamos é a valorização da Educação essencialmente como uma estratégia de sobrevivência para lidar com um sistema feito para selecionar com base em resultados de testes. 



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