Mostrando postagens com marcador Cidadania. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Cidadania. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Educar para a vida: o que o Brasil pode aprender em Educação com a Finlândia?



As crianças finlandesas são “preparadas para a vida”: cena de uma escola num subúrbio de Helsinque

Esta é a primeira parte do Projeto Escandinávia, bancado por nossos leitores. O foco não poderia ser mais oportuno: Educação num país que se tornou uma referência mundial no assunto, a Finlândia.

O texto é de Claudia Wallin, que se deslocou para Helsinque para investigar o caso de sucesso finlandês na Educação. Claudia é uma especialista em Escandinávia. Moradora de Estocolmo e casada com um sueco, é autora de um livro fundamental para quem deseja conhecer o espírito escandinavo: Um País sem Excelências e Mordomias.

Nos próximos dias, publicaremos as demais partes do Projeto — e um vídeo feito por Claudia em Helsinque.

Soltaram as bestas do Apocalipse, dirão os arautos do fim do mundo: nas escolas finlandesas, o filho do empresário e o filho do lixeiro estudam lado a lado, em um eficiente e igualitário sistema educacional que tornou-se um dos mais celebrados modelos de excelência em educação pública do mundo atual.

É o chamado milagre finlandês, iniciado na década de 70 e produzido em sua maior exuberância a partir dos anos 90. Em um espaço de 30 anos, a Finlândia transformou um sistema educacional medíocre, elitista e ineficaz, que amargava resultados escolares comparáveis a países como o Peru e a Malásia, em uma incubadora de talentos que alçou o país para o topo dos rankings mundiais de desempenho estudantil, e alavancou o nascimento de uma economia sofisticada e altamente industrializada onde antes jazia uma sociedade substancialmente agrária.

Trata-se, à primeira vista, de um enigma digno da Esfinge de Tebas: os finlandeses estão fazendo exatamente o contrário do que o resto do mundo faz na eterna busca por melhores resultados escolares – e está dando certo. O aparentemente ensandecido receituário finlandês inclui reduzir o número de horas de aula, e limitar testes e provas escolares a um mínimo tolerável.    

Atônitas delegações de educadores internacionais vasculham o paradoxal modelo finlandês em busca da fórmula do milagre insondável. E ouvem, dos finlandeses, uma constatação capaz de produzir mais batimentos cardíacos do que o medonho encontro com um tubarão no mar: a Educação de alta qualidade na Finlândia não é resultado apenas de políticas educacionais, eles dizem, mas também sociais.

 “O Estado de Bem-Estar social finlandês desempenha um papel crucial para o sucesso do modelo, ao garantir a todas as crianças oportunidades e condições iguais para um bom aprendizado”, diz o educador Pasi Sahlberg, um dos idealizadores da reforma das políticas educativas da Finlândia nos anos 90.

Sahlberg fala do que vejo nas instalações da Escola Viikki, um dos centros educacionais de ensino médio e fundamental da capital finlandesa. No amplo refeitório, refeições fartas e saudáveis são servidas diariamente aos estudantes. Serviços de atendimento médico e odontológico cuidam, gratuitamente, da saúde dos 940 estudantes. Todo o material escolar é também gratuito. Equipes de pedagogos e psicólogos acompanham cuidadosamente o desenvolvimento de cada criança, identificando na primeira hora problemas como a dislexia de um aluno e fornecendo apoio imediato. Saudáveis e bem alimentadas, as crianças estão mais preparadas para aprender neste país singular, onde mensalidades escolares não existem.

Pasi Sahlberg fala ainda do impacto fundamental do modelo de igualdade e justiça social criado gradualmente pelos finlandeses a partir do pós-guerra, a exemplo dos vizinhos escandinavos: saúde, Educação e moradia para todos, e uma vasta e solidária rede de proteção aos cidadãos.

“A desigualdade social, a pobreza infantil e ausência de serviços básicos têm um forte impacto negativo no desempenho do sistema educacional de um país”, pontua Sahlberg no livro “Finnish Lessons” (“Lições Finlandesas”), publicado pelo Teachers College da Columbia University.

 
Pasi Sahlberg, um dos renovadores da educação finlandesa: “O Estado de Bem-Estar social finlandês desempenha um papel crucial para o sucesso do modelo, ao garantir a todas as crianças oportunidades e condições iguais para um bom aprendizado”

O princípio da igualdade e da inclusão social marcou o desenvolvimento nos anos 70 da nova peruskoulu, a Educação obrigatória finlandesa que abrange o ensino fundamental e médio. Em uma decisão histórica do Parlamento finlandês, todas as crianças, independentemente de background sócio-econômico ou região de domicílio, passaram a ter acesso igualitário e gratuito a escolas de qualidade para cumprir os nove anos da Educação básica.

Nem todos, porém, concordavam com a ideia na época. Seguiu-se então um acalorado debate, neste país que acomoda 5,4 milhões de habitantes e mais de dois milhões de saunas.

Como que tomados pelo espírito dos mais destemperados analistas econômicos do Brasil, os críticos do novo sistema previram o caos: disseram que não seria possível ter as mesmas expectativas em relação a crianças de diferentes circunstâncias sociais. Argumentaram que o futuro da Finlândia como nação industrial estaria sob risco, uma vez que o nível educacional teria que ser ajustado para baixo a fim de acomodar os alunos menos favorecidos. Erraram, evidentemente.

O vital passo seguinte foi uma valorização sem precedentes do professor. A Finlândia lançou programas de formação de excelência para o magistério nas universidades do país, criou notáveis condições de trabalho e ampla autonomia decisória nas escolas, e paga bem seus professores. Mas o mais fundamental, diz Pasi Sahlberg, foi a criação de uma nova noção de dignidade profissional:

“Os professores adquiriram um alto grau de respeito e confiança em nossa sociedade. E os finlandeses continuam a considerar o magistério como uma carreira nobre, orientada principalmente por propósitos morais”, destaca Pasi Sahlberg, ex-diretor-geral no ministério finlandês de Educação e Cultura e atual professor visitante de Práticas Educacionais na Universidade de Harvard.

O terceiro ingrediente da fórmula finlandesa foi a elaboração de uma tresloucada teoria dos paradoxos. Talvez formulada em um estado coletivo de delirium tremens, a ideia provaria ser visionária.

Paradoxo 1:  Os alunos aprendem mais quando os professores ensinam menos

A experiência finlandesa desafia a lógica convencional, que prescreve mais horas de aula e maior quantidade de lições de casa como fórmula para turbinar o desempenho estudantil. Os dias são mais curtos nas escolas da Finlândia: são menos horas de aula do que em todas as demais nações industrializadas, segundo estatísticas da OECD.

“É importante que crianças tenham tempo de ser crianças”, diz a professora Erja Schunk na Escola Viikki, que também funciona como um centro de treinamento de professores da Universidade de Helsinque. “O mais importante é a qualidade do tempo em sala de aula, e não a quantidade”.

Nos Estados Unidos, um professor gasta aproximadamente o dobro do tempo ensinando na sala de aula por semana, em comparação com um professor finlandês.

“Dar seis horas de aula por dia é uma tarefa árdua, que deixa os professores cansados demais para se dedicar a outras tarefas importantes no trabalho de um educador, como planejar, reciclar-se e dar assistência cuidadosa ao aluno”, diz Pasi Sahlberg. Em uma típica escola finlandesa, os professores dão cerca de quatro aulas por dia.

Na lógica do modelo finlandês, o papel central da Educação pública não é criar indivíduos robotizados, e sim educar cidadãos dotados de espírito crítico e capazes de pensar de forma independente.

“Procuramos não dar respostas prontas aos alunos, na medida do possível, e sim orientá-los a pensar e refletir”, observa a diretora da Escola Viikki, Marja Martikainen. 

“A preocupação central da escola finlandesa não é atingir recordes de desempenho escolar, e sim ajudar a desenvolver as aptidões de uma criança a fim de formar indivíduos capazes de viver vidas felizes, dentro e fora do trabalho”.

Professores finlandeses também não acreditam que aumentar a carga de trabalho de casa dos estudantes leva necessariamente a um melhor aprendizado – especialmente se as lições forem entediantes exercícios que não desafiam a capacidade criativa do aluno. Pelas estatísticas da OECD, os estudantes finlandeses gastam menos tempo fazendo trabalho de casa do que os colegas de todos os outros países: cerca de meia hora por dia.

“Os alunos aprendem o que necessitam saber na sala de aula, e muitos fazem o dever de casa aqui mesmo, na própria escola. Assim, eles têm tempo para conviver com os amigos e se dedicar às coisas que gostam de fazer fora da escola, o que também é importante”, diz o professor Martti Mery na Escola Viikki, que está situada em um campus da Universidade de Helsinque. 

Diretor e aluno numa escola: diversão também é fundamental

Como no centro escolar de Viikki, as escolas finlandesas são tipicamente pequenas, e o tamanho das classes é em média de 20 alunos.

Na fase pré-escolar, a prioridade é desenvolver a auto-confiança das crianças: os dias na escola são preenchidos com tarefas como aprender a se orientar desacompanhadas em uma floresta, ou amarrar sozinhas seus patins de gelo.

Paradoxo 2: Os alunos aprendem mais quando têm menos provas e testes

Estudantes finlandeses só suam demais nas infernais saunas do país: seu sistema educacional não acredita na eficácia de uma alta frequência de provas e testes, que por isso são aplicados com pouca regularidade. Apesar disso, a Finlândia brilha nos rankings globais de Educação, ao lado dos países com melhor desempenho escolar do mundo.

Milagre? A filosofia finlandesa é de que o foco principal dos professores deve ser ajudar os alunos a aprender sem ansiedade, a criar e a desenvolver a curiosidade natural, e não simplesmente a passar em provas.

“A pressão do modelo tradicional de ensino traz consequências dramáticas para os alunos, como o medo, o tédio e o receio de assumir riscos”, ensina o educador Pasi Sahlberg.

Relatórios do PISA indicam que apenas 7% dos alunos finlandeses sentem-se ansiosos ao estudar matemática. Já no rígido sistema de ensino do Japão, que ostenta altos níveis de desempenho escolar enquanto registra recordes de suicídio entre estudantes, esse índice chega a 52%.

À minha volta, nas salas de aula da escola Viikki, o ambiente é tranquilo e descontraído. Não há uniformes escolares, e muitos estudam descalços – refletindo o clima doméstico das casas escandinavas, onde ninguém usa sapatos.

As crianças finlandesas iniciam sua educação formal aos sete anos de idade, e a escola primária é praticamente uma zona livre de testes. A fim de evitar que as crianças sejam categorizadas de acordo com sua performance, o sistema finlandês virtualmente aboliu a avaliação por notas escolares nos cinco primeiros anos da peruskoulu.

Nos anos seguintes, a avaliação é feita com base em testes elaborados pelo professor e no desempenho do aluno em sala de aula, além de uma ampla avaliação de cada estudante realizada coletivamente pelos professores ao fim de cada semestre. Os que precisam de maior assistência no ensino, recebem atenção particular: a filosofia finlandesa preza a crença de que todas as crianças têm o potencial de aprender, se tiverem apoio e oportunidades adequadas.

O único exame padronizado de avaliação escolar na Finlândia é o concurso nacional prestado pelos estudantes ao final dos nove anos do ensino obrigatório, em que o conhecimento é testado através de dissertações desenvolvidas pelo aluno nas diferentes disciplinas como exigência para o acesso à educação superior.

E repetir de ano, na forma convencional, é algo que também não existe na Finlândia. Em vez de uma avaliação geral dos alunos ao fim de cada ano, as escolas finlandesas utilizam módulos curriculares em diferentes áreas do conhecimento. Assim, um aluno repete apenas os cursos nos quais seu desempenho não foi satisfatório.

Todos os aspectos por trás do sucesso finlandês parecem ser, assim, o oposto do que se faz na maior parte do mundo, onde a competição, a carga de provas e aulas, a uniformização do ensino e a privatização são via de regra os princípios dominantes.

“Exercer controles rígidos sobre as escolas e os alunos, pagar os professores com base no desempenho dos estudantes, entregar a liderança das escolas a especialistas em gerenciamento ou converter escolas públicas em privadas, são ideias que não têm lugar no repertório finlandês de desenvolvimento da educação em um país”, diz o educador Pasi Sahlberg.

Dizem ainda os finlandeses que o dinheiro não é “a” única solução para melhorar o desempenho de um sistema educacional.

“Os gastos da Finlândia com educação, da ordem de 6,3% do PIB, são na verdade bastante próximos à média registrada nos países da OECD em todos os níveis - com exceção da Educação superior, em que estamos em oitavo lugar na lista dos que mais investem”, diz Niklas Nikanorov, do Ministério da Educação e Cultura finlandês.

“A eficiência do sistema é portanto mais importante para uma boa performance educacional do que o nível de gastos”, deduz o educador Pasi Sahlberg.

A História

Até o fim dos anos 60, a Finlândia parecia acreditar mais no Papai Noel da sua Lapônia do que no poder transformador da Educação. Apenas 10 por cento dos adultos completavam o ensino secundário. A maior parte dos jovens abandonava os estudos após completar seis ou sete anos do ensino fundamental e médio.

As oportunidades eram limitadas, e o acesso desigual: apenas as crianças que viviam nas maiores cidades e municípios tinham acesso a escolas públicas, ou a instituições privadas que muitas famílias não tinham condições de pagar.

Um diploma universitário era considerado, na época, um troféu excepcional – apenas 7% da população tinham Educação superior. Em todas as faixas de aprendizado, a Finlândia era um símbolo de atraso em relação aos vizinhos escandinavos.

Mas a história da Finlândia sempre foi marcada pela resiliência do seu povo, que só conquistou a independência em 1917 – depois de seis séculos sob o domínio do Reino da Suécia, e mais de cem anos como Grão-Ducado do Império Russo e seus cinco czares.

Na década de 70, a nação foi convocada a mudar. Uma Educação pública estelar passou a ser percebida como a base fundamental para a criação de um futuro menos medíocre: desenvolver o capital humano do país tornou-se a missão primordial do Estado finlandês. A reforma levou o país, enfim, aos patamares do mundo desenvolvido.

Nos anos 90, o país anunciou uma revolução ainda mais radical:

“Estamos criando uma nova cultura de Educação, e este é um caminho sem volta”, declarou o então diretor-geral do Conselho Nacional de Educação finlandês, Vilho Hirvi, chamando a sociedade a participar da discussão sobre os rumos da reforma:

“Não se pode educar uma nação à força”, completou o sábio Hirvi.

Associações de professores, políticos, pais, membros da academia e diferentes setores da sociedade contribuíram para a criação dos novos e revolucionários paradigmas da Educação no país, que rejeitavam a fórmula convencional aplicada na maior parte do mundo como receita para melhorar o desempenho escolar.

“Particularmente significativo foi o papel desempenhado por variadas organizações da sociedade civil”, destaca Pasi Sahlberg, que foi um dos conselheiros do Ministério da Educação finlandês nos anos 90.

A transformação do sistema foi profunda, e rápida. Como resultado da nova política de Educação, já no fim dos anos 90 a peruskoulu finlandesa tornou-se líder mundial em matemática, ciências e interpretação.

Os primeiros resultados do PISA publicados em 2001 surpreenderam os próprios finlandeses: em todos os domínios acadêmicos, a Finlândia despontou no topo do ranking mundial. E permanece, até hoje, entre os mais destacados membros do clube.

“Atualmente, 99,4% dos alunos completam com êxito o peruskoulu compulsório”, diz Niklas Nikanorov, do Ministério da Educação e Cultura finlandês.

Com o acesso gratuito às universidades e instituições de ensino técnico e profissionalizante, a Educação de nível superior também passou a ser uma oportunidade igual para todos: a Educação na Finlândia é livre de mensalidades para todos, do pré-escolar ao PhD.

Mais: a partir dos 17 anos de idade, todos os estudantes finlandeses contam com generosos benefícios do governo, que chegam a 337 euros mensais (cerca de 1,230 reais). Além disso, têm acesso a benefícios extras como ajuda de custo de até 200 euros por mês para pagar o aluguel de moradia, e recursos para complementar as despesas com transporte. Além disso, todos têm direito a um empréstimo especial para se manter durante o período de estudos, que chega a 400 euros mensais e só precisa ser quitado em sua totalidade quando o estudante completa 60 anos de idade.

A Lição da Finlândia

 A Finlândia diz ter aprendido uma lição: políticas de Educação efetivas devem estar necessariamente interligadas às demais políticas sociais, afirma o educador Pasi Sahlberg:

“As pessoas na Finlândia têm um profundo senso de responsabilidade compartilhada, e importam-se não apenas com as próprias vidas, mas também com o bem-estar dos outros”, ele observa.

“Os cuidados com o bem-estar da criança começam antes mesmo de ela nascer, e se estendem até a idade adulta. As creches públicas são um direito garantido para todas as crianças, que também têm acesso igualitário a todo tipo de serviço básico. A Educação em nosso país é considerada um bem público. É portanto protegida, na Constituição do país, como um direito humano básico.”

As estatísticas apontam o caminho, ele diz:

“As sociedades igualitárias têm cidadãos com grau de instrução mais elevado, raros casos de evasão escolar, menores taxas de obesidade, melhores indicadores de saúde mental e índices mais reduzidos de ocorrência de gravidez entre adolescentes, em relação aos países nos quais que a distância entre ricos e pobres é maior”, enfatiza Sahlberg.

Filhos de imigrantes se beneficiam também da Educação finlandesa

Diz-se que o modelo nórdico do Estado de Bem-Estar Social teve como base três ideias políticas centrais: o legado dos camponeses livres, o espírito do capitalismo e a utopia do socialismo.

“Igualdade, eficiência e solidariedade, os princípios essenciais destas três ideias políticas, formam a raiz do terreno sólido no qual a política de Educação finlandesa foi criada”, resume Erkki Aho, diretor-geral do Conselho Nacional de Educação da Finlândia entre 1973 e 1991.

Os gastos realizados para concretizar o ideal de um Estado de Bem-Estar social foram considerados não como um custo necessário – e sim como um investimento lúcido para alavancar a produtividade do país.

“É interessante ainda notar que a expansão do setor educacional na Finlândia coincidiu com uma impressionante transformação do país, que em um período relativamente curto deixou de ser uma sociedade agrária e atrasada para se tornar uma economia altamente industrializada, baseada no conhecimento”, diz Pasi Sahlberg.

Sahlberg resume assim o pensamento finlandês sobre a educação pública de qualidade:

“É uma obrigação moral, pois o bem-estar e em última análise a felicidade de um indivíduo depende do conhecimento, das aptidões e das visões de mundo que são proporcionadas por uma Educação de qualidade.”


É também um imperativo econômico, uma vez que a riqueza das nações depende cada vez mais de know-how e conhecimento”.


quarta-feira, 23 de julho de 2014

Frase de Hoje: Ariano Suassuna



"O problema fundamental, antes da Educação, é a fome"


Em entrevista concedida em 2007 à Carta na Escola, Suassuna fala de livros lidos e escritos, de professores marcantes e dos conflitos entre o Brasil real e o oficial. Clique aqui para ler a entrevista

domingo, 29 de junho de 2014

Inovação e meio ambiente: projeto reaproveita caixas de leite e promove a cidadania

Alunos do Senai de Tubarão, Santa Catarina, dão exemplo de como aprender com responsabilidade e cidadania.




sexta-feira, 27 de junho de 2014

Urbanismo e cidadania: “Nossas cidades são um grande negócio na mão de poucos”

Por Joana Tavares, de Belo Horizonte, para o Brasil de Fato

Uma das principais pensadoras sobre as cidades brasileiras, Ermínia Maricato foi secretária executiva do Ministério das Cidades, formulou propostas para a área urbana para o governo Lula e recentemente foi conselheira das Nações Unidas para assentamentos humanos, além de dar aulas na USP e na Unicamp

Arquiteta fala sobre o boom imobiliário, a mobilidade urbana e as conquistas das manifestações

Convidada para o Ciclo de Debates do Brasil de Fato MG, Ermínia fala nesta entrevista sobre a crise nas cidades e as perspectivas abertas com as manifestações de junho 2013.

O movimento das ruas de 2013 trouxe uma série de reivindicações, entre elas a questão da ocupação do espaço urbano. Que conquistas esse movimento trouxe?
Sabe quantas cidades brasileiras cancelaram o aumento nos transportes com as mobilizações de junho de 2013? Mais de 100! E não foi só isso. Coisas que estavam engavetadas, obras faraônicas inúteis e obras para automóvel andar – que é o que mais se faz- muitas foram canceladas. Foi muita mudança a partir de junho de 2013. A vida na cidade está insuportável e é impressionante como a política urbana é invisível no Brasil. A mobilidade e o uso e ocupação do solo são dois eixos fundamentais. Eu diria que depois das ultimas três décadas, estamos, desde junho de 2013, começando a encarar a política de mobilidade urbana. Mas a política fundiária urbana nós ainda não começamos a decifrar. Eu diria que a própria sociedade suporta muito e conhece pouco. Nossas cidades são um grande negócio na mão de poucos. Ou seja, lobbys muito bem organizados funcionam pra levar a cidade para um caminho que não beneficia a maior parte da população. É muito mais o caminho de quem tem lucro com a construção das cidades. Sem dúvida nenhuma, eu diria que as três forças que comandam hoje o crescimento das cidades são a indústria automobilística, que contraria o interesse do transporte coletivo; o capital imobiliário e o capital de construção. E tudo em consonância com o financiamento das campanhas eleitorais.

Podemos dizer então que não são cidades do povo e para o povo, e sim pra quem especula esse mercado?
Não tenho a menor dúvida. Estudando as cidades por muitos anos, eu diria que estamos num momento em que vivemos uma verdadeira tragédia das cidades brasileiras, em que a função social das cidades, prevista na Constituição brasileira; a função social da propriedade, prevista na Constituição brasileira e no Estatuto da Cidade, estão em plano absolutamente secundário.

O que é a função social da propriedade?
Nós conquistamos na Constituição de 1988 dois capítulos sobre as cidades. E dentro desses capítulos está a proposta da função social da propriedade. É exatamente a ideia de que o direito de propriedade privada é limitado. Pelo quê? Pelo interesse coletivo. Todos nós pagamos pra construir a estrutura das cidades – asfalto, drenagem, esgoto, iluminação pública, transporte – tudo isso foi pago por todo mundo. E vai um sujeito e deixa um lote vazio. Esse lote está cumprindo a função social que tem que ter numa cidade? Não! A propriedade privada não é absoluta na Constituição, é subordinada à função social. O direito à moradia é absoluto. No entanto, o judiciário brasileiro trata o direito à moradia como relativo e o direito à propriedade como absoluto.

Qual sua avaliação do programa Minha Casa, Minha Vida e das intervenções em vilas e aglomerados?
Estamos vivendo no Brasil um boom imobiliário. Durante três anos, houve um aumento de 154% no preço do metro quadrado de terrenos e imóveis em São Paulo, e 181% no Rio de Janeiro. Os aluguéis cresceram na mesma medida. Passamos duas décadas perdidas, sem investimento público nas cidades. Quando o investimento vem, por meio dos PAC e Minha Casa, Minha Vida, aparecem também os capitais, que tomaram conta das cidades. Com o apoio, é claro, de muitos do executivo e legislativo. Isso acarretou em um boom imobiliário, que a verticalização e a produção de moradia, ao invés de abaixarem o preço dos imóveis, elevaram. Na medida em que não fizemos a reforma fundiária, não implementamos a função social da propriedade urbana, todo o subsídio que está sendo colocado pelo governo federal está indo para o preço da propriedade, para os imóveis e para os terrenos. Isso está afastando a população mais pobre, que não consegue o financiamento do Minha Casa, Minha Vida e que não está conseguindo mais pagar o aluguel. O boom imobiliário não é progresso, ele empobrece toda a cidade. Ele pega uma parte da riqueza produzida por toda a população e a coloca no bolso de alguns, que são os proprietários imobiliários e principalmente os incorporadores imobiliários.

Como é possível aliar esse gás novo de se pensar as cidades com o acúmulo de organizações e movimentos que já faziam a disputa do modelo de cidade, de Estado, de política?
Acho que a política urbana não é prioridade para os partidos, nem os de esquerda, no Brasil. É preciso dar visibilidade para a luta de classes que se dá em torno das cidades. O espaço urbano não é apenas palco para a luta de classe, é objeto e agente. A gente precisa conhecer mais. Mais do que nunca, a informação, o conhecimento é a libertação.

*Ermínia Maricato é Professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo)


quinta-feira, 5 de junho de 2014

Educação e cidadania: “Escola não está conseguindo responder desafios do século XXI”

Por Lilian Milena para o Brasilianas.org, em 4/6/2014

Um a cada quatro estudantes abandona a escola antes de chegar na última série do ensino fundamental. O dado foi destaque no Relatório de Desenvolvimento produzido pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), divulgado em 2013, que posicionou o Brasil como o terceiro país com a maior taxa de evasão escolar entre 100 países.

A gerente de projetos do movimento Todos Pela Educação, Andrea Bergamaschi, convidada para o debate do Brasilianas.org, na TV Brasil, destacou que, em boa parte dos casos, o aluno vem acumulando problemas de aprendizagem ao longo de sua vida escolar. “A evasão não acontece de uma hora para outra”, esclareceu.

Clique aqui para assistir ao debate completo, mediado pelo jornalista Luis Nassif

Segundo uma avaliação aplicada a 54 mil alunos pelo Todos Pela Educação, em 2012, em todos os estados brasileiros, metade das crianças entre oito e nove anos de idade já apresentava dificuldades de leitura, escrita e matemática para sua idade/série. Bergamaschi acrescentou ainda dados oficiais do Ministério da Educação que revelam que hoje 10% dos alunos do ensino médio mal sabem matemática. Logo, para evitar a evasão escolar mais tarde, é preciso focar na melhora da Educação do ensino básico.

A atualização do programa curricular das escolas também foi apontada no debate como um componente importante para evitar a evasão escolar. Para Jair Ribeiro da Silva Neto, fundador da Associação Parceiros da Educação, uma forma de resolver o problema estaria em melhorar a dinâmica do currículo escolar no ensino médio, voltado ao tempo integral e matérias eletivas, além das obrigatórias, para que o aluno tenha condições de se aprofundar mais nas áreas que lhe interessam.

Silva Neto também defendeu uma maior integração entre a Educação formal e profissionalizante. “O modelo alemão talvez seria o mais adequado para o nosso [sistema]. Hoje, na Alemanha cerca de 35% dos formandos do ensino médio não vão para a universidade mas para o ensino técnico que pode ser feito junto com o ensino médio, ou até dois anos após o término do ensino médio, para a colocação [desse estudante] no mercado de trabalho”, sugeriu.

Também convidada para o debate, Maria Alice Setúbal, Fundadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), destacou que as imensas desigualdades educacionais do país só poderão ser resolvidas quando o tema Educação for visto como prioritário na estratégia de desenvolvimento.

“A escola [no Brasil] não está conseguindo responder aos desafios do século XXI. Estamos passando por mudanças enormes tecnológicas, ao mesmo tempo, é preciso trazer para a escola debates do dia a dia, desde mobilidade urbana nas grandes cidades, violência, e meio ambiente (...). No ensino médio, por exemplo, o jovem quer discutir democracia, participação, valores da sociedade. E a escola está distante disso”, pontuou.

Progressão Continuada
Maria Alice é defensora da Progressão Continuada. “É uma unanimidade em pesquisas nacionais e internacionais que a repetência não traz mais aprendizagem ao aluno. Pelo contrário, interioriza na criança que ela não pode, não sabe, não acontece. E ela acaba sendo expulsa, entre aspas, da escola conforme o aumento da distorção idade e série, fazendo ela aumentar seu desinteresse nos estudos”.

Assim Maria Alice apontou que o problema não está no sistema de Progressão Continuada, mas na sua implementação. E isso ocorre pela falta de infraestrutura humana e física nas escolas para garantir reforço escolar aos alunos que apresentam deficiência na compreensão de matérias.

Recursos
Silva Neto, da Parceiros da Educação, afirmou que não adianta apenas reduzir a defasagem dos salários dos professores para atrair profissionais às escolas públicas. A melhora do ambiente de trabalho, segurança, acesso a equipamentos adequados para o ensino e bibliotecas também são componentes que incentivam os professores a aperfeiçoarem seus trabalhos. O piso salarial médio de um professor nas cidades do Sul do país varia entre R$ 1.700 a R$ 2.000, apenas.

Andrea Bergamaschi, da Todos Pela Educação, destacou ainda que a melhor maneira de reduzir também a defasagem de conhecimentos dos professores frente às novas tecnologias é a valorização do profissional. Ela lembrou de um estudo divulgado pela Fundação Victor Cívita, publicado em 2009, mostrando que apenas 2% dos alunos que terminaram o ensino médio tinham interesse em se tornar professores no Brasil.

“Estamos pegando alunos que não tem outra opção e acabam se tornando professores da rede pública. Alguns continuam estudando e vão dar aulas na rede privada. Mas o que temos é um aluno que teve dificuldades em sua formação se tornar professor por não ter perspectiva de carreira”, analisou.

Seria preciso, portanto, criar uma estratégia para atrair e reter os melhores talentos nas escolas, defendeu Silva Neto. “Sabemos que existe uma correlação enorme entre a qualidade do professor e a qualidade do aluno. Outro dado [que sabemos] é que quanto mais tempo o aluno passa em sala de aula, mas ele aprende”, disse.

Bergamaschi apontou que é positivo o retrato dos recursos mobilizados para a educação do país nos últimos quinze anos. “O Brasil conseguiu colocar [em andamento] vários instrumentos de financiamento, sistematizar processos de financiamento para a educação básica, com a redistribuição [de recursos] através do Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação]”.

Para ela, o país se encontra em um nível de maturidade importante no setor educacional, considerando que não devemos apenas olhar para o volume de recursos, mas para a aplicação deles na redução das desigualdades regionais, melhora dos currículos escolares, dos instrumentos de avaliação e qualidade da formação e carreira dos professores.

Já, segundo Maria Alice, a melhor maneira do Brasil acelerar o desenvolvimento geral do ensino, reduzindo as desigualdades, é cortando caminho através do uso das novas tecnologias, construindo uma escola que responda aos desafios do século XXI.

“Não temos outra opção. Se quisermos realmente criar um país onde a educação seja o eixo central [do desenvolvimento] temos que usar os dois movimentos, ou seja, melhorar os projetos pedagógicos ao lado do uso [das ferramentas] da tecnologia”, concluiu.


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Visualizações