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terça-feira, 24 de março de 2015

Nova Escola: Finlândia será o primeiro país do mundo a abolir a divisão do conteúdo escolar em matérias

Por Renato Carvalho, para a Rescola, aprendendo a ensinar

A campainha toca, mas, em vez da aula de História, começa a aula de “Primeira Guerra Mundial”, planejada em conjunto pelos professores especialistas em História, Geografia, Línguas Estrangeiras e (por que não?) pelo professor de Física que achou que seria uma boa oportunidade para trabalhar os conceitos de Balística.



À tarde, outro sinal, mas os alunos não vão ter aula de Biologia. Hoje a aula é sobre “Ecossistema Polar Ártico”, ministrada pelos professores especializados em Biologia, Química, Geografia e o de Matemática, que percebeu que os dados sobre o derretimento das geleiras seriam úteis para o estudo de Estatística.

Em pouco tempo, cenários como esse, que já são comuns nas principais escolas da capital Helsinki, poderão ser encontrados em toda a rede de ensino do município e nas cidades do interior. O objetivo é claro: a Finlândia quer ser o primeiro país do mundo a abolir completamente a tradicional divisão do conteúdo escolar em “Matérias” e adotar em todas as suas escolas o ensino por “Tópicos” multidisciplinares (ou “Fenômenos”, conforme a terminologia adotada pelos educadores finlandeses).

Há anos, a Educação finlandesa vem sendo considerada a melhor do mundo. Com “segredos” como valorização dos professores, atenção especial aos alunos com mais dificuldades, valorização das artes e de diferentes formas de aprendizagem e uma radical redução no número de provas e testes, o país tem consistentemente dividido as mais altas posições nos rankings do Pisa (Programme for International Student Assessment, ou Programa para Avaliação Internacional de Estudantes) com Cingapura, mas com as vantagens de oferecer uma Educação universalmente gratuita e livre dos tremendos níveis de estresse aos quais os estudantes asiáticos são submetidos.

Apesar dos excelentes resultados (ou talvez por causa deles), a Finlândia pretende continuar repensando e aprimorando seu sistema educacional. “Não é apenas Helsinki, mas toda a Finlândia que irá abraçar a mudança”, afirma Marjo Kyllonen, gerente educacional de Helsinki. “Nós realmente precisamos repensar a Educação e reprojetar nosso sistema, para que ele prepare nossas crianças para o futuro com as competências que são necessárias para o hoje e o amanhã. Nós ainda temos escolas ensinando à moda antiga, que foi proveitosa no início dos anos 1900 – mas as necessidades não são mais as mesmas e nós precisamos de algo adequado ao Século 21.”

Naturalmente, a ideia de substituir “Matérias” por “Fenômenos” como forma de dividir o conteúdo escolar e apresentá-lo aos alunos sofreu resistência inicial, principalmente dos professores e diretores que passaram suas vidas se especializando e se preparando para ensinar matérias. Mas com suporte do governo – inclusive incentivos financeiros através de bonificações para os professores que aderissem ao método – os professores foram gradualmente se envolvendo e hoje aproximadamente 70% dos professores das escolas de ensino médio da capital já estão treinados e adotando essa nova abordagem.

Atualmente, as escolas finlandesas já são obrigadas a oferecer ao menos um período de ensino multidisciplinar baseado em Fenômenos por ano. Na capital Helsinki, a reforma está sendo conduzida de forma mais acelerada, com as escolas sendo encorajadas a oferecer dois períodos. A previsão de Marjo Kyllonen é de que em 2020 a transição estará completa em todas as escolas do país.


quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Educação superior: MEC reconhece mais 63 cursos

O Ministério da Educação (MEC) reconheceu mais 63 cursos superiores, a serem ofertados em diversas unidades federativas do país. A lista completa dos cursos e das instituições de ensino superior está disponível em duas portarias publicadas aqui pela Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior no Diário Oficial da União.


De acordo com as portarias, o reconhecimento dos cursos vale até o próximo ciclo avaliativo. Na lista, constam cursos de bacharelado, licenciatura, tecnológicos e sequenciais em diversas áreas. Entre elas, engenharia, física, química, direito, nutrição, pedagogia, geografia, matemática, farmácia, biomedicina, música, relações internacionais, química, administração, cinema e audiovisual, educação física, logística, biotecnologia, serviço social, automação industrial, gastronomia, letras, biologia, serviço social.



Educação superior: MEC reconhece mais 63 cursos

O Ministério da Educação (MEC) reconheceu mais 63 cursos superiores, a serem ofertados em diversas unidades federativas do país. A lista completa dos cursos e das instituições de ensino superior está disponível em duas portarias publicadas aqui pela Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior no Diário Oficial da União.


De acordo com as portarias, o reconhecimento dos cursos vale até o próximo ciclo avaliativo. Na lista, constam cursos de bacharelado, licenciatura, tecnológicos e sequenciais em diversas áreas. Entre elas, engenharia, física, química, direito, nutrição, pedagogia, geografia, matemática, farmácia, biomedicina, música, relações internacionais, química, administração, cinema e audiovisual, educação física, logística, biotecnologia, serviço social, automação industrial, gastronomia, letras, biologia, serviço social.



domingo, 28 de dezembro de 2014

Dica de livro: o céu e o inferno da educação

Crítico dos testes, o chinês Yong Zhao explica por que o gigante asiático tem o melhor e o pior sistema do mundo

Por Tory Oliveira, para a Carta na Escola

Chineses se debruçam para serem aprovados no Ensino Superior
(foto Ma Jian/Chinafotopress/Getty Images)
Inédito no Brasil, o livro Who’s Afraid of the Big Bad Dragon (Quem Tem Medo do Grande e Malvado Dragão) tem um subtítulo intrigante: “Por que a China tem o melhor e o pior sistema educacional do mundo”. Ao longo de 272 páginas, o autor Yong Zhao dedica-se a explicar esse paradoxo e a desconstruir a ideia de que o modelo chinês de Educação – centralizador, baseado na ênfase em testes padronizados, altamente competitivo e sempre no topo do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) – é um exemplo a ser seguido pelos demais países. 

“Os piores aspectos (do modelo chinês) estão na ênfase exagerada em avaliação, que torna todas as demais atividades de estudantes, professores, pais e escolas em uma preparação para os testes. Consequentemente, a experiência educacional dos alunos, dentro e fora da escola, está focada em poucos assuntos. O bem-estar social, emocional e físico fica em segundo plano”, critica Zhao, que conheceu o sistema educacional chinês como aluno e professor.

Nascido na província de Sichuan, Yong Zhao estudou em uma pequena escola rural durante a Revolução Cultural (1966-1976), quando o exame de admissão do Ensino Superior (Gaokao) foi abolido. O mesmo não aconteceu no curso equivalente ao nosso Ensino Médio, período em que sentiu na pele a enorme pressão para atingir uma boa nota e passar no exame, restaurado em 1977.

Após se formar em Língua Inglesa e lecionar por seis anos na China, Zhao aceitou uma oferta para trabalhar como professor-visitante no Linfield College e se mudou para os Estados Unidos, em 1992. Atualmente, o autor ocupa o cargo de professor na Universidade do Oregon e é presidente do Institute for Global and Online Education, na mesma instituição.

Por e-mail, Zhao conversou com Carta na Escola sobre o sistema educacional chinês, os perigos de uma Educação baseada em testes e a admiração nutrida por muitos países ocidentais pela educação tradicional chinesa.

Carta na Escola: Por que a China tem, ao mesmo tempo, o melhor e o pior sistema educacional do mundo? Como isso é possível?
Yong Zhao: Porque existem diferentes definições e objetivos na Educação. Se você acredita que Educação significa ter todos os seus estudantes dominando o mesmo conteúdo prescrito e demonstrando esse domínio por meio de testes focalizados, a China já demonstrou ser a melhor, ao menos de acordo com o Pisa. Mas, se você pensa que Educação significa ajudar a melhorar e desenvolver habilidades individuais, produzir a diversidade, cultivar a criatividade e prover uma experiência balanceada para o desenvolvimento da criança como um todo, talvez a China seja a pior. Aliás, não se trata do único país a ter um sistema educacional com essas características. Na verdade, todo sistema educacional que coloca muita ênfase em testes e que impõe aos seus estudantes um conjunto limitado de habilidades e conhecimentos pode ter essas consequências.

CE: Quais são os piores aspectos da educação chinesa, em sua opinião?
YZ: Na prática, os piores aspectos estão na ênfase exagerada nos testes, que torna todas as demais atividades de estudantes, professores, pais e escolas em uma preparação para os testes. Consequentemente, a experiência educacional dos alunos, dentro e fora da escola, está focada em poucos assuntos. O bem-estar social, emocional e físico ficam em segundo plano. Mas a ênfase exagerada nos testes é resultado das chamadas high-stake tests, nas quais o sucesso na vida de uma pessoa (e tem sido assim há muito tempo) é definido pela sua capacidade de chegar ao Ensino Superior, única forma de conseguir os melhores empregos. 

CE: No último Pisa, Xangai (e a China) ocupou o primeiro lugar do ranking. No entanto, o senhor aponta o fato de que, desde 1949, o país não ganhou nenhum Prêmio Nobel. Esse modelo de Educação está prejudicando a criatividade e outras capacidades dos estudantes?
YZ: Ao menos em parte, sim. Há muitos fatores envolvidos, é claro, mas um sistema educacional que premia os estudantes pelo bom desempenho em testes padronizados certamente prejudica aspectos presentes em indivíduos mais criativos.

CE: Um dos aspectos mais conhecidos da população chinesa no Ocidente é a valorização da Educação como chave para o sucesso. O senhor afirma, porém, que essa valorização é uma “estratégia de sobrevivência”. Poderia explicar melhor?
YZ: A Educação, ou melhor, passar em testes, tem sido o único caminho para a mobilidade social na China – e os testes são controlados pelas autoridades. As pessoas precisam valorizar essa “Educação”. Como eu explico no livro, as pessoas não valorizam necessariamente a Educação, mas sim a preparação necessária para passar nos exames. Assim, o que observamos é a valorização da Educação essencialmente como uma estratégia de sobrevivência para lidar com um sistema feito para selecionar com base em resultados de testes. 



terça-feira, 26 de agosto de 2014

Educação: o paradoxo do tempo perdido

Em palestra para gestores educacionais, criador do movimento Uncollege conta por que abandonou a escola para viver outras experiências e ensinar pessoas do mundo todo a fazer o mesmo

Por Cinthia Rodrigues, para a Carta na Escola

Um jovem de 22 anos vestido com camiseta e meias vermelhas sob um blazer social foi a principal estrela do Fórum de Lideranças Desafios da Educação, realizado pela Blackboard e pelo Grupo A Educação em (6/8/2014), em São Paulo. A diferença de idade entre o palestrante e a veterana audiência só contrastava menos do que o propósito entre os dois: Dale Stephens estava no Instituto Insper para contar a 200 gestores de instituições privadas de ensino superior como deixou a escola e, mais tarde, a faculdade para viver de incentivar pessoas do mundo inteiro a fazer o mesmo.


Há 10 anos o norte-americano do Arkansas abandonou a 6ª série depois de um recesso de meio de ano para nunca mais voltar à escola básica. A reação dos pais, lembra, foi a esperada, se revoltaram, se frustraram, choraram. Por fim, foram convencidos: “Eu não tomei esta decisão por preguiça, mas para não perder mais tempo. Queria aprender coisas que fossem interessantes, não conteúdos que alguém disse que seriam úteis, e que 99% das pessoas esquecem em seguida”, contou.

Com uma foto de cada experiência, Stephens listou o que fez da vida nos seis anos seguintes. Aprendeu a tocar instrumentos musicais, trabalhar com ferramentas, montou projetos para encontrar soluções para situações do cotidiano e grupos de estudo de temas diversos na biblioteca. “Até trabalhei em uma instituição que, ironicamente, ajudava pessoas a entrar no ensino superior”, afirmou em sua performance, arrancando gargalhadas do público.

Neste último emprego, o adolescente foi questionado pelo chefe sobre por que não fazia faculdade. Em mais slides, com elaborados gráficos estatísticos, Stephens apresentou suas ponderações. Entre elas, estava o fato de a graduação custar cerca de 29 mil dólares nos EUA e que, em 2012, 53% dos norte-americanos formados em cursos superiores não haviam encontrado colocação no mercado. “Ninguém discorda de que é preciso educar a população, mas acho que países como os Estados Unidos precisam pensar quanto da população precisa ter determinada Educação e a que custo.”

A plateia sentiu que marcou um ponto no tópico seguinte. “Cervejas e garotas”, estava escrito no próximo quadro. “Ok, se o conteúdo não é significativo para a maioria dos jovens e o diploma não garante emprego, que pelo menos o percurso seja divertido, certo?”, perguntou, recebendo apoio em forma de acenos e risos. Segundo Stephens, este foi um dos principais pontos que o incentivou a entrar em uma universidade. Acabou se submetendo a um processo seletivo e entrou no Hendrix College, mas achou improdutivo. “No final das contas, eu gostava mais de champanhe e garotos.”

Aos 19 anos, Dale, já reconhecido como um inovador em Educação nos EUA, fundou o Uncollege, organização que incentiva pessoas a estudar por conta e até mesmo dá aulas de como fazê-lo. Em 2012, lançou o livro Hack Your Education com sua experiência que foi motivo de reportagem em revistas e televisões de todo país. O programa tem matriculados e, ironicamente, cursos presenciais pagos. No ano passado, a Forbes o reconheceu como uma das 30 pessoas mais influentes do mundo com idade abaixo dos 30 anos. Seu projeto para 2014 é formar a primeira turma no exterior. Destino escolhido: Ilhabela, São Paulo, Brasil.

Ao público que se dedica a fazer justamente o contrário, ou seja, levar mais jovens ao ensino superior, Dale afirmou que não acha que todos devem abandonar os estudos, mas também não acredita que todos precisam fazer cursos tradicionais. “A Educação precisa passar por mudanças, e não vou conseguir isso sozinho. O sistema precisa mudar, por isso quero compartilhar com vocês algumas premissas às quais chegamos e que, na verdade, são bastante conhecidas, mas pouco praticadas”, disse.

As dicas do jovem empreendedor foram que o aprendizado requer:
  • participação ativa, em que as pessoas não apenas ouçam, mas façam, toquem, sintam, vejam, viajem etc.
  • contexto pessoal – o envolvimento ocorre quando o conteúdo tem sentido e utilidade concreta na vida do estudante.
  • paradas para descanso – pesquisas mostram que uma parada de alguns minutos faz o cérebro absorver o dobro de informação na sequência.
  • mentalidade de crescimento – pessoas com projetos em que os estudos a farão ser um ser humano mais valioso aprendem mais.

Parece que Bill Gates, Steve Jobs, Mark Zuckerberg e outros famosos autodidatas que preferiram a própria metodologia à academia abriram portas para jovens que tomam as rédeas da própria educação.

Saiba mais: http://www.uncollege.org/


quarta-feira, 23 de julho de 2014

Frase de Hoje: Ariano Suassuna



"O problema fundamental, antes da Educação, é a fome"


Em entrevista concedida em 2007 à Carta na Escola, Suassuna fala de livros lidos e escritos, de professores marcantes e dos conflitos entre o Brasil real e o oficial. Clique aqui para ler a entrevista

A Educação que resolve: hora de ficar na escola

Por Itamar Melo, para a Zero Hora*

Como muitos alunos do ensino público, Gabrielle Mendes Ferreira, 14 anos, chegou pouco antes das 8h de quinta-feira à escola. Como poucos, veio preparada para uma jornada que se estenderia até o fim da tarde. A garota da Ilha da Pintada frenquenta o 8º ano em um dos primeiro estabelecimentos a adotar a Educação em tempo integral como decorrência de uma lei estadual sancionada no começo deste ano, que obriga o Rio Grande do Sul a implantar o modelo em metade dos colégios de Ensino Fundamental.

O dia de Gabrielle na Escola Estadual Maria José Mabilde teve inicio com dois períodos de informática. Após o lanche no refeitório, vieram mais duas horas de matemática. Do meio-dia às 13h, ela fez intervalo para o almoço, feito na escola. A tarde começou com Educação física e inglês. Às 15h20min, foi ao laboratório para a aula de química. Foi a sua preferida.

“Estudamos os rins”, justificou Gabrielle.

A jornada de Gabrielle na escola (Fotos Zero Hora) 

Às 17h, ela colocou um casaco, abriu o garda-chuva e foi para casa, depois de nove horas de colégio. A mãe, Rosângela Mendes, 33 anos, está satisfeita com a nova rotina:

“Se ela ficasse em casa, ficaria vendo TV ou fazendo outra coisa que não fosse estudar. Na escola, não é reforço, é aula mesmo.”

A tendência é de que jornadas como a de Gabrielle virem rotina em todo o Brasil. O novo Plano Nacional de Educação estabeleceu metas para a ampliação do ensino em tempo integral ao longo de toda a Educação Básica, enquanto a rede privada se mobiliza para oferecer cargas de aula cada vez mais altas.

Em 26 de junho, enquanto a grande preocupação dos brasileiros era a partida contra o Chile pelas oitavas de final da Copa, um fato de relevância muito maior passou despercebido de quase todo mundo. Na edição daquele dia, o Diário Oficial da União publicou a sanção, pela presidente Dilma Rousseff, do novo Plano Nacional de Educação (PNE).

O documento estabelece que até 2024 metade das escolas públicas do país deve garantir ensino em tempo integral. Em 10 anos, 25% dos estudantes terão de passar pelo menos sete horas por dia em sala de aula.

Levando em consideração os números de hoje, isso significaria oferecer a modalidade em mais de 75 mil escolas, abrangendo 10 milhões de alunos. O Ministério da Educação conta com a ajuda dos royalties do petróleo para elevar de 6,4% para 10% a proporção do PIB investido no ensino, outra meta do PNE, de forma a dispor de recursos para disseminar o tempo integral.

— Nenhum país do mundo chegou a se transformar em uma nação desenvolvida sem que as crianças tenham dois turnos na escola — defendeu Dilma.

No Rio Grande do Sul, onde funcionam 7,5 mil escolas públicas, o PNE é reforçado por uma lei em vigor desde janeiro, que determinou a oferta de Educação integral em 50% dos estabelecimentos estaduais de Ensino Fundamental, no prazo de 10 anos. A Secretaria Estadual da Educação (SEC) começou a implantação neste ano. Já há 12.375 alunos da rede que passam cerca de oito horas por dia na escola, em 51 colégios espalhados por 38 cidades.

Uma das principais preocupações dos educadores é que, ao ampliar a carga horária, os sistemas de ensino se limitem a oferecer, no tempo extra, oficinas, atividades artísticas ou modalidades esportivas que estejam descoladas do currículo normal. A ideia é evitar o modelo assistencial, no qual o aluno fica na escola apenas para não estar na rua, e também o sistema de turno integral de colégios privados, em que os pais podem pagar um valor extra para que as crianças permaneçam durante o contraturno, muitas vezes em atividades recreativas.

— O tempo integral é uma necessidade. Mas existe um risco imenso. O PNE só fala em aumentar as horas, mas Educação integral não é ocupar o tempo das crianças. É preciso fazer uma transformação que coloque o turno e o contraturno em um  mesmo projeto pedagógico — afirma Maria Amabile Mansutti, coordenadora técnica do Centro de Referência em Educação Integral.

A diretoria-adjunta do departamento pedagógico da SEC, Rosa Mosna, afirma que essa preocupação é levada em conta no modelo em implantação no Estado. Foi desenvolvida uma proposta pedagógica específica, em que as disciplinas já existentes nas escolas de um turno só são mantidas, com a mesma carga horária, e atividades curriculares novas, obrigatórias ou eletivas, são adicionadas.

Além de português, matemática e história, os alunos têm agora aulas de iniciação à pesquisa, direitos humanos, leitura e produção textual. A orientação é que as escolas mesclem as disciplinas antigas e as novas ao longo do dia, para que os estudantes consigam enxergar que se trata de um todo.

— Muitos alunos acham que a escola tradicional é chata. Não dá para simplesmente dobrar as horas de matemática, de português. Ninguém merece. Procuramos organizar atividades novas, em que se trabalha por meio da pesquisa, de forma mais flexível, leve e lúdica, mas que também se relacionam com os conhecimentos de matemática e de português — diz Rosa Mosna.

Desafio para todos na Ilha da Pintada
Uma das escolhidas para implantar o tempo integral, a Escola Maria José Mabilde, na Ilha da Pintada, em Porto Alegre, deve fechar 2014 com 1.600 horas de aula — o dobro do exigido por lei. Os 178 alunos chegam às 8h e permanecem até às 17h. Têm à disposição café da manhã, almoço e dois lanches. O processo ainda é de adaptação, com alguns percalços. A diretora, Jurema Garzella, diz que só em agosto o novo currículo será adotado de forma completa.

Para dar conta da duplicação das horas de ensino, os 19 professores em atuação no ano passado revelaram-se insuficientes. Cinco deles tiveram a carga horária dobrada e alguns docentes que atuavam fora de sala de aula assumiram disciplinas. A SEC enviou oito novos profissionais, cinco deles na semana passada, mas ainda falta um. Algumas classes foram instaladas em uma área coberta do pátio, para driblar a escassez de salas.

— É um desafio, porque temos de elaborar uma identidade nova para a escola. Os professores sabem trabalhar, mas ainda estão se acostumando com o integral. Não digo que ocorrem bate-bocas, mas eles têm de fazer o planejamento integrado, e a tendência é cada um achar que seu jeito é o certo. Mas está havendo uma troca de experiência muito rica, e a gente vê um dizendo para o outro: é, você tinha razão — conta a diretora.

A escola da Ilha da Pintada foi escolhida porque já tinha uma experiência de tempo ampliado, por meio do programa federal Mais Educação, que garantia a presença de oficineiros. Essa oportunidade entusiasmou a aluna de 8º ano Camila Machado, de 13 anos.

Em 2013, quando teve de mudar-se para Guaíba por causa do trabalho da mãe, a estudante não se adaptou ao novo colégio. Insistiu tanto que a família voltou a residir na Ilha da Pintada. Durante um tempo, a mãe, Daise da Silva Machado, 34 anos, conformou-se em viajar todos os dias a Guaíba para que a filha estudasse no colégio:

— O sacrifício valia a pena. O turno integral favorece em todos os sentidos. O ensino é melhor e dá mais tranquilidade para a gente, que vai trabalhar sabendo que o filho está aproveitando bem o tempo.

Camila conta que às vezes tem de estudar no almoço ou no recreio, por causa do horário apertado.

— É puxado, é aula mesmo, o dia inteiro. Acho que vai ser uma coisa muito boa para o meu futuro — prevê.

Das 51 escolas a seguir o novo modelo, 29 já tinham, pelo menos em alguma medida, o tempo integral, uma herança de projetos antigos. Outras 22 foram incorporadas, de acordo com a estrutura e a aceitação da comunidade. A SEC ainda não fez os cálculos, mas estima que uma escola no novo modelo custe 75% a mais. O ritmo de implantação ainda está em estudo.

— Não basta um canetaço. Nossa estrutura não é como a de países que já pensaram a escola para o tempo integral. Nós concebemos uma escola pela metade — diz Rosa Mosna.

*Clique aqui para ver a série de matérias da Zero Hoje sobre o Plano Nacional de Educação e a escola de tempo integral.



terça-feira, 15 de julho de 2014

Ensino e futebol: derrota brasileira na Copa do Mundo pode ser usada para trabalhar habilidades não cognitivas com os alunos

Por Fernanda Kalena, para o Porvir

Fim de Copa do Mundo, Alemanha campeã, e o Brasil fora da grande festa da final após ser eliminado por um placar embaraçoso de 7×1. Na escola, tanto essa quanto qualquer outra derrota pode ser usada como gancho para trabalhar nas aulas de educação física habilidades socioemocionais que moldam o caráter e preparam os alunos para a vida, como aprender a lidar com perdas, trabalhar em equipe e aceitar e obedecer regras.

Para Fernando Lobo, gestor pedagógico da Rede de Ensino Desportivo (Rede),  instituição de ensino voltada para a capacitação de profissionais ligados a esportes, os grandes eventos esportivos são um bom pretexto para colocar em prática atividades que envolvem o desenvolvimento de questões não cognitivas. “Nos esportes em geral, sempre vai ter um perdedor e um vencedor. Nas aulas de educação física, algumas modalidades esportivas como o futebol podem ser usadas como ferramentas de desenvolvimento não só motor, mas também socioafetivo”.

(Foto Kungverylucky/Fotolia.com)

Segundo ele, preparar os alunos para lidar com vitórias e derrotas é papel do educador físico, que deve propor atividades com esse fim. “É importante deixar claro que perder é natural e que em um próximo jogo quem perdeu pode ganhar. Em uma atividade de jogo, o professor pode mesclar os alunos de forma que um time fique mais forte que o outro para que todos passem pela experiência de ganhar e perder”, explica Lobo, que ainda acrescenta  que cabe ao professor manipular e induzir situações para que todos os alunos vivenciem os dois lados da moeda.

“Crianças, em geral, mas principalmente as na primeira infância, têm dificuldade em perder, muitas vezes chegam a burlar regras para poderem vencer, e isso deve ser trabalhado”, explica o gestor. Ele também ressalta que outra questão importante a ser trabalhada é o seguimento de regras. “Regras são extremamente importantes como limitadores de atitudes”, completa.

O coordenador do curso de educação física do Colégio Presbiteriano Mackenzie, de São Paulo, Ronê Paiano, acrescenta que as regras devem ser trabalhadas em uma perspectiva reflexiva, que esclareça por que elas existem e abrindo espaço para que os alunos as questionem. “As regras do esporte podem ser transferidas para a vida em geral. Não existe convívio social sem regras”, afirma. “É interessante questionar os alunos se é possível jogar sem regras, pode até coloca-los para jogar alguma coisa sem regras, para faze-los entender a necessidade delas”, completa o coordenador, que ressalta que atividades regradas desenvolvem atitudes honestas e o falar a verdade.

Outro habilidade de grande importância que os esportes coletivos dão abertura para ser trabalhada é a colaboração, a importância do trabalho em equipe.

“Nos esportes coletivos, além da competição com o adversário, é necessário se relacionar com os colegas de time. Para que o grupo tenha sucesso, é fundamental aprender a trabalhar em conjunto e para isso é preciso respeitar as escolhas e as atitudes dos outros como, por exemplo, reconhecer quando é melhor passar a bola para um colega melhor posicionado ou mesmo compreender se alguém errar uma jogada”, explica Paiano.

Segundo ele, o professor pode instigar os alunos a perceberem que atitudes individualistas não são benéficas em atividades coletivas permitindo que a turma debata jogadas e estratégias em conjunto. “Os alunos têm que ser levados a essa reflexão, o professor pode incitar a conversa, mas entre adolescentes, por exemplo, é mais proveitoso o debate entre pares”, argumenta.

Os valores trabalhados e desenvolvidos através do esporte nas aulas de educação física, como colaboração e lealdade, são aprendizados que serão levados por toda a vida, segundo Lobo. “Todo mundo convive com vitórias e derrotas, no esporte e na vida. Trabalhar em equipe e colaborar com o outro, também. As crianças têm que interiorizar essas sensações, pois sempre estarão presentes em suas vidas”, conclui.


Educação: jovens do campo vão ter formação agroecológica e de inclusão digital


Maria Helena Serafim (Foto Divulgação)
Maria Helena Serafim pertence à comunidade Kalunga, remanescente de quilombo no norte de Goiás. Ela tem 26 anos, já deu aulas em sua comunidade, em Monte Alegre de Goiás (GO), mas teve que parar para fazer faculdade de Educação no campo, na Universidade de Brasília (UnB). Ela quer voltar a ser professora, e seu sonho é que os filhos continuem na comunidade. Mas em toda a região, de 272 mil hectares, não há sequer uma escola de ensino médio, o que acaba favorecendo a evasão dos jovens para as cidades.

Segundo Maria Helena, apenas algumas regiões da comunidade de 6 mil pessoas têm saneamento básico e energia elétrica. Nas demais, é necessário buscar água no estilo antigo, “em cima da cabeça”. Além da busca por escolas, os jovens saem da comunidade para trabalhar, e muitos deles não retornam. “Voltar para quê, se eles tiveram acesso a tudo que não tinham na comunidade? Por mais que a gente ache que nossa cultura é boa, ela não segura nossos jovens lá. Eles querem trabalhar, querem andar bem vestidos, na moda. Na nossa estrutura de comunidade não temos isso, não temos outro tipo de trabalho, além da cultura de subsistência, para que esses jovens tenham renda”, explica.

Na tentativa de mudar esse cenário, e fazer com que os 8 milhões de jovens que moram na zona rural tenham a opção de continuar no campo, o governo assinou nesta quinta-feira (3) um acordo interministerial que inclui novas iniciativas no Programa de Fortalecimento da Autonomia Econômica e Social da Juventude Rural. Serão R$ 35 milhões para cursos de agroecologia, residência de universitários em assentamentos rurais, cinco pontos de cultura e 50 pontos de inclusão digital para a juventude rural.

Seis cursos de Formação Agroecológica e Cidadã vão ser oferecidos em parceria com instituições de ensino, com foco no Norte e Nordeste, como a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, em Minas Gerais, e a Universidade Federal Rural de Pernambuco. De acordo com a secretária nacional da Juventude, Severine Macedo, as ações têm previsão de início imediato. Outro ponto do acordo é a criação de 25 turmas em parceria com universidades que contribuam para a formação dos jovens, além de um programa Juventude Itinerante, que vai levar aos jovens informações sobre as políticas públicas a seu alcance.

O valor aplicado para um público tão amplo, no entanto, é alvo de críticas. De acordo com Paulo Mansan, da Coordenação Nacional da Pastoral da Juventude Rural, um programa de impacto requer mais recursos para que a juventude continue no campo. Ele avalia que outros programas podem se somar às iniciativas, como a qualificação dos jovens. “Além de cursos, são necessários projetos que incentivem a renda dos jovens no campo, inclusive projetos produtivos rurais, que a gente acredita que sejam os próximos passos desses programas”, avaliou.

Durante a assinatura do acordo, no Palácio do Planalto, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, reconheceu que a pressão dos movimentos sociais é importante para a ampliação das políticas. “Eu aceito, e tenho que entender que de fato é muito pouco. Mas tenho que lembrar das políticas que realizamos e do quanto andamos do ponto de vista de recompor uma sociedade absolutamente injusta, com padrão de exclusão brutal e estrutural”, explicou.

“O grande limite da crítica que os movimentos fazem, e têm razão, é que este tema ainda não entrou para a agenda de ministérios do governo, de maneira permanente”, acredita a secretária Severine. Para ela, é preciso fazer um esforço para que a juventude rural seja tratada diferentemente das políticas macro da agricultura familiar, “porque o jovem precisa ter estímulos diferenciados, ele valoriza mais o uso do computador, o telefone no meio rural e o lazer”. O acordo assinado hoje, na sua opinião, vai contribuir para que os órgãos governamentais deem uma resposta daqui para frente.

Enquanto cultiva esperanças de que os programas sejam um incentivo para que os jovens permaneçam nas comunidades rurais e, por consequência, na comunidade Kalunga, Maria Helena Serafim quer concluir logo seu curso de licenciatura em educação no campo na UnB. “Depois, retornar para a comunidade, minha vida é lá, e é por isso que eu luto para que as coisas cheguem lá. A gente não precisa vir embora, para que eu não crie meus filhos cá fora também. [Farei tudo] para que eles não percam aquela essência, aquela raiz. Eles têm que aprender todo o nosso processo cultural, tradicional”, afirma.


Educação: MEC descredencia 28 instituições de ensino superior

Fonte Agência Brasil

O Ministério da Educação descredenciou 28 instituições de Educação superior. A decisão foi publicada nesta segunda (14/7/2014) no Diário Oficial da União. Segundo a pasta, a medida foi tomada porque as instituições estavam inativas no Censo da Educação Superior e tinham os atos autorizativos vencidos.

As instituições e suas mantenedoras devem manter as atividades das secretarias para que sejam preservados e entregues os documentos acadêmicos de estudantes que já tiveram vínculos com elas. Elas também terão prazo de dez dias para publicar, em pelo menos dois jornais de grande circulação da região de cada uma, a decisão do descredenciamento pelo MEC, além de indicar telefone e local de atendimento para entrega de documentação e demais orientações.

As instituições descredenciadas terão até 30 dias para apresentar recurso contra a decisão ao Conselho Nacional de Educação (CNE).

No início do ano, o MEC descredenciou a Universidade Gama Filho e a UniverCidade. Os 10,8 mil estudantes matriculados tiveram que procurar novas faculdades ou participar de processo de transferência assistida. A pasta esclarece, no entanto, que os casos anunciados hoje são diferente. "Como o descredenciamento atinge instituições que não declararam, no Censo, ter alunos matriculados, a medida não representa prejuízo direto à comunidade acadêmica".

Confira as instituições descredenciadas:

1. Instituto De Educação Superior São Francisco De Assis De Teófilo Otoni
2. Faculdade De Engenharia E Tecnologia Do Instituto Mairiporã De Ensino Superior
3. Faculdade Católica Dom Aquino De Cuiabá
4. Faculdade Espírito Santense De Ensino Tecnológico
5. Faculdade De Letras De Nova Andradina – Falena
6. Escola Superior De Estatística Da Bahia
7. Escola Superior De Estudos Empresariais E Informática
8. Faculdade Paulista De Ciências Aplicadas
9. Faculdade De Filosofia Ciências E Letras De Tatuí
10. Faculdade De Tecnologia Consultime
11. Faculdade De Ciências Letras E Educação Do Noroeste Do Paraná
12. Faculdade De Milagres Ceará
13. Faculdade De Tecnologia Contec - Facontec
14. Instituto Brasiliense De Tecnologia E Ciência
15. Faculdade Inconfidência
16. Faculdade De Arquitetura E Urbanismo De Pernambuco
17. Escola Superior De Educação Física De Muzambinho
18. Faculdade De Assuntos Acadêmicos E Científicos Monsenhor Edisson Vieira Lício
19. Faculdade De Administração De Campina Verde
20. Faculdade De Turismo De Nova Andradina - Fatur
21. Faculdade De Administração De Santo Antônio Do Monte
22. Faculdade Metropolitana
23. Instituto Superior De Educação Coração De Jesus
24. Faculdade De Administração De Nova Andradina
25. Instituto Superior De Educação Berlaar – Iberlaar
26. Instituto Unificado Europeu Do Brasil – Iunebrasil
27. Conservatório De Música De Niterói
28. Faculdade Católica De Ciências Econômicas Da Bahia


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