Mostrando postagens com marcador ciep. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador ciep. Mostrar todas as postagens

domingo, 26 de maio de 2013

Educação integral: deputado quer “revolução dos Cieps” nos 417 municípios baianos

O vice-líder do PDT na Câmara dos Deputados, deputado federal Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) defende a implantação dos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), idealizados pelos educadores Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, nos 417 municípios baianos.

Na opinião do parlamentar, “não é preciso inventar a ‘roda’, mas aplicar o modelo de Educação pública em tempo integral criado na Bahia por Anísio Teixeira como forma de reverter o abismo que existe ainda hoje entre a educação pública e a educação privada”, afirmou.

Exemplo de como funciona um Ciep




“Nos anos 1990, o então secretário de Educação do Rio de Janeiro, Darcy Ribeiro, fez dos Cieps verdadeiros centros culturais que ofereciam Educação, alimentação, saúde e lazer para as populações mais carentes, funcionando também nos finais de semana com acesso a ginásios, campos de futebol, piscinas e bibliotecas. Precisamos efetivar essa revolução dos Cieps em cada um dos 417 municípios baianos”, assinalou.

Félix Júnior defende ainda a fixação de quadro com a nota do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) na porta das escolas (Projeto de Lei 5325/2013) e a expansão do ensino superior no estado, com a criação da Universidade Federal do Noroeste da Bahia (Projeto de Lei 2050/2011), com sede em Irecê e campi em Xique-Xique, Canarana e Uibaí.


sexta-feira, 20 de abril de 2012

A Educação que funciona 1: Saudade do Ciep

Dioclécio Campos Júnior*
Saudade não é nostalgia. Supõe emoção da perda. Evoca seres, fatos e feitos que a memória registra nos arquivos mais valiosos da mente. Embora findos na realidade circunstante, sobrevivem na essência do pensamento de quem lhes testemunhou o valor. Não é a lembrança fria do passado, mas a referência que anima o presente, ainda que de forma imperceptível.
O Centro Integrado de Educação Pública, Ciep, é marco na história recente do país. Inclui-se entre as poucas ousadias do Estado brasileiro destinadas à superação do atraso, pré-requisito para o fim da desigualdade social que macula a cidadania.
Gerado no Rio de Janeiro durante o governo de Leonel Brizola, nasceu para expandir-se por todo o território nacional. Primava pelo princípio inegociável da qualidade, sem o qual a sociedade igualitária nunca deixará de ser sonho ingênuo da população, acalentado pelos embustes das elites que lhe roubam a cena.
Concebido pelo talento de Darcy Ribeiro, tinha o propósito de garantir à criança pobre o direito à educação plena, instrumento libertador que lhe tem sido negado em nome de interesses mesquinhos que mantêm a ordem dominante.
Valendo-se de projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer, cada Ciep acolhia mil alunos em espaços compatíveis com a dignidade ambiental que a educação requer. Além de salas de aula, biblioteca, quadra esportiva, era dotado de atendimento médico e odontológico, cozinha e refeitório.
O conteúdo pedagógico enfatizava a escrita, a leitura e a aritmética, sem prejuízo das demais matérias. Buscava qualificar o aprendizado da linguagem a fim de que a comunicação erudita fosse também assimilada pelas classes pobres, nivelando por cima a inadiável progressão social dos excluídos.
Implantada no coração de uma comunidade de despossuídos, despontava como avanço para a elevação da autoestima dos moradores, propiciando-lhes acesso a um direito que sempre privilegiou as classes ricas. As famílias orgulhavam-se da escola pública que as tratava com distinção. Crianças e adolescentes tinham no Ciep a chance real para aprendizado lúdico, prazeroso, interativo. Trabalhavam a cognição em ambiente seguro, dignificante.
Anteviam a realização de originalidades potenciais, crescendo-lhes a expectativa de vencer a humilhante segregação que os estigmatizava. Desenvolviam atividades educativas, artísticas, desportivas e culturais em tempo integral, das oito horas da manhã às cinco da tarde.
Permaneciam sob os cuidados da equipe de educadores durante o período em que a maioria dos pais saía de casa para trabalhar. Recebiam alimentação, assistência à saúde, além do amparo ao organismo em fase de crescimento físico e desenvolvimento neuropsicomotor.
A educação oferecida não se restringia aos limites medíocres da escolaridade em vigor. Ia muito além. Reproduzia a visão de Winnicot, para quem educar é garantir a estimulação favorável em ambiente seguro e afetivo. Darcy Ribeiro definiu bem o projeto: “Sem essa base, a criança estará condenada à marginalidade e ao risco de cair em delinquência”.
E completou: “Isso é verdade, sobretudo para a criança das áreas metropolitanas, que tem mais a escola do lixo e da criminalidade do que a escolaridade mínima indispensável para se realizar pessoalmente através do trabalho e para exercer conscientemente a cidadania”.
O compromisso social era abrangente. Atraía crianças moradoras de rua que, motivadas, mudavam de vida. Passavam a residir na escola, onde ficavam sob os cuidados de “pais sociais” — funcionários preparados para a preciosa missão.
A construção das unidades era rápida; o custo, reduzido. Fundava-se na lógica do pré-moldado, ganhando celeridade na execução. Quinhentas delas chegaram a enriquecer o cenário educacional do Rio de Janeiro.
Com o Centro Integrado de Educação Popular disseminado país afora, a sociedade já teria dado o salto para a dimensão igualitária sonhada. Infelizmente, obras que visam à igualdade social serão sempre desmontadas pelo poder econômico.
O modelo Ciep foi desfeito há mais de vinte anos. Restaram os prédios precários, convertidos em escolas desqualificadas, coerentes na perpetuação da pobreza. Desativado, abriu caminho para a UPP – Unidade de Polícia Pacificadora. A desigualdade social foi assim preservada. Para os ricos, a política; para os pobres, a polícia.
O Ciep desperta saudade. É o PAC que transformaria o país. O projeto foi encerrado, mas a ideia não morreu. Os dirigentes deveriam repensar a educação nacional, sem preconceito. Experiência não falta.


*Dioclécio Campos Júnior é médico, professor titular aposentado da UnB, secretário de Estado da Criança do DF, foi presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria. Transcrição da Tribuna da Internet

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Visualizações